Software Livre: que liberdade é essa?

Nos últimos anos tenho sido um contumaz incomodo para muitos dos Ativistas Convertidos do movimento Software Livre. Em especial para aqueles mais antigos, seja porque estes vem lentamente ficando velhos e complacentes com o conceito de liberdade de software definido pela FSF, seja porque em uma sociedade meritocrática \”antiguidade é posto\”, seja pela falta de engajamento, seja pela simples fragilidade intelectual ou o que parece ser o mais certo, por sobrevivência mesmo.

Alguns desses velhos ativistas, depois de décadas de arraigado empenho e até de doação pessoal, tem se superado em seu seu grau de miopia seletiva, acusando o próprio ativismo em defesa do Software Livre de \”coisa de quem não tem mais o que fazer\”. Chegam ao ponto de sugerir que nos dediquemos à leitura para cegos, em vez de defender a liberdade do software. Quem sabe um dia fundo um clube de leitura para os militantes velhinhos do movimento Software Livre, onde o texto introdutório e obrigatório seja a GPL?

Mas seja qual for o motivo, tem gente demais confundindo liberdade humana com liberdade de software, e isso não é sem querer, faz parte das ações coordenadas de reação do movimento antirrevolucionário OSI. Como já tenho descrito em diversos outros artigos, não é um ato de desejo popular espontâneo, pelo qual se conveniou chamar o sistema operacional de Linux, nem de aceitar a inserção massiva de código não livre em distribuições como Ubuntu, nem permitir o uso irrestrito de ferramentas privativas on-line como Gmail, e nem mesmo o uso \”limitado\” de iPhones. Essa foi uma construção lenta e planejada que culmina com a demonização dos defensores do Software Livre, colocando os comedidos e apolíticos OSIstas como os verdadeiros paladinos da liberdade.

Software Livre não tem absolutamente nada haver com liberdade de escolha. Tentar equiparar ou comparar esses dois conceitos é um ato de ignorância ou quiçá de má fé. Enquanto o primeiro trata sobre a liberdade de código de computador, o segundo é uma marca registrada de uma campanha capitalista para definição de mercado. Simplificando: uma trata de software e o outro de mercado. Liberdade de escolha, inclusive, foi uma campanha utilizada pela Microsoft lá em 2004, quando percebeu que muitos governos e empresas optavam por usar GNU. Parece no mínimo curioso que agora tenhamos um bando de auto proclamados \”ativistas de software livre\” clamando pelo mesmo argumento usado pela MS, para defender exatamente a mesma coisa: que há um grupo de radicais que está tentando negar a sua liberdade de escolher usar software não livre.

Mudar a relação de poder entre os consumidores e produtores de tecnologia, empoderando o usuário através da perpetuação do acesso ao código, é o foco da liberdade por trás do Software Livre. É por isso que algumas licenças não GNU são compatíveis e aceitas pela FSF. Qualquer meio técnico, legal, político ou econômico que coloque em risco essa liberdade, será duramente criticada pelos defensores do Software Livre.

Desde que Richard Stallman começou sua militância, nos idos de 1983, o Software Livre tem sido combatido sistematicamente, exatamente por empoderar o usuário. Toda sorte de ataques, difamações e campanhas foram regadas com muito dinheiro de corporações de tecnologia privativa. Nenhuma delas sobreviveu a um ataque frontal contra os argumentos da filosofia GNU. Então decidiram minar o movimento por dentro, lenta e progressivamente, resultando em aberrações como OSI, FOSS, Ubuntu e um Kernel Linux recheado de softwares não livres.

Considerando que este fosse um mundo perfeito e que não estivéssemos sob a influência das pressões mercadológicas, de consumo, de propaganda e sociais, você seria livre para escolher qual sistema operacional deseja usar. Essa poderia ser chamada a sua \”liberdade de escolha\”. Mas sua liberdade de escolher usar um sistema operacional não livre, chamá-lo de livre, e ensinar aos incautos que ele é livre, mesmo não sendo, faz de sua liberdade um crime, uma enganação.

  • Mudar o conceito de Software Livre para que se encaixe com suas crenças não é uma liberdade, é uma afronta;
  • Usar software não livre é um direito, é uma questão de escolha, mas enganar as pessoas dizendo que usem um software não livre, dizendo que é Software Livre, não é;
  • Escolher qual vertente lhe agrada mais, seja Software Livre, OSI ou mesmo software não livre, é uma liberdade, mas enganar as pessoas não é;
  • Distribuir Ubuntu como sendo Software Livre, não é uma liberdade, é uma farsa. E insistir nisso fará de você um farsante, não um paladino da liberdade;
  • Não importa se você concorda: a definição de Software Livre não está ao seu dispor, ela é da FSF;

É importante que fique claro: Software Livre é um movimento social e político que busca, através da liberdade dos softwares, empoderar o usuário na relação comercial entre o produtor de tecnologia e consumidor dela. Qualquer tentativa de interpretar isso de outra forma fará os defensores do Software Livre parecerem chatos, bobos e feios, quando na verdade é você quem está deturpando o conceito.

Software Livre foca na liberdade do software, enquanto Liberdade de Escolha foca na liberdade mercadológica. Impor uma sobre a outra é como comparar bananas e maçãs.

Então, agora que você sabe sobre que tipo de liberdade o Software Livre advoga, você ainda quer ser um ativista e militante do Software Livre? Eu espero que sim, mas se não for o caso faça-nos um favor: não engane mais as pessoas e assuma-se.

Saudações Livres!

 

 

 

15 comentários em “Software Livre: que liberdade é essa?”

  1. Alessandro Feitoza

    Otimo texto mestre…
    gostei bastante dessa parte
    “…Não importa se você concorda: a definição de Software Livre não está ao seu dispor, ela é da FSF;…”

    Compartilhando apartir de agora…

  2. Tem absoluta razão!

    Achei que já tivesse feito isso 🙁
    Agora só no domingo, quando voltar da viagem!

  3. Pingback: Diaspora - Redes Sociais mais sociais por favor. #30JunTexts - Acesso Me

  4. Anahuac, boa tarde.

    Sem muitas delongas: Qual distribuição você utiliza? Qual sua sugestão para quem está querendo migrar e iniciar no movimento?

    Grato

      1. Marcos Ferreira da Rocha

        Esquece cara a conversa com esse camarada ai é impossível, ele é igual a c* manda a bost* no vaso e sai fora, nunca mais o vemos, so quando ele dá vontade de defecar novamente que aparece.

    1. Wellton Costa

      Sei que a pergunta não foi pra mim, mas vi uma postagem dele falando que ele utilizava o OpenSuse (com kernel linux-libre), depois mudou para o Debian sid (acho que com kernel linux-libre também).

  5. Fábio Rabelo

    Sem entrar no mérito da FSF, ou dos defensores do FOSS, ou do que seja, vamos ao comentário :
    Eu uso Debian em TODOS os meus servidores, seja qual for a função dele !
    Disto isto ….
    Eu NÃO concordo com os responsáveis pelos eventos que fazem o possível e o impossível para barrar a Canonical, ou qualquer outra empresa diga-se de passagem, de participar destes eventos !!!
    Estas empresas estão, no mínimo, ajudando a custear o evento, e por consequência, merecem o meu aplauso !

    Fábio Rabelo

  6. Pingback: Anahuac pergunta e ele mesmo responde: Software Livre, que liberdade é essa? - Peguei do

  7. alessandro binhara

    E ai beleza???
    Então me explica se só o que vale como software livre é se for GPL. o Que fazemos com softwares com licença Apache e MIT ??? Removemos das distros? Vamos remover o X11 e acabar com as interfaces grafias ? Vamos remover o WebServer apache e acabar com 60% dos servidores linux por ai ?

    Como fica isso ? se grande parte do código das distribuições não é código GPL ?

    1. O problema não é ter software não GPL e sim ter software não livre. Para um software ser considerado livre ele ter que respeitar as 4 liberdades e várias licenças além da GPL estão de acordo com essas liberdades.

      Para saber mais a respeito de cada uma das licenças de uma olhada em: https://www.gnu.org/licenses/license-list.html. Uma questão é que mesmo algumas licenças não sendo 100% compatíveis, ainda tem uma observação indicando que não há problemas em usar um software sobre essa licença como a Apache 1.1.

  8. Com certeza o maior problema do software livre na atualidade são as pessoas que usam e pensam erroneamente sobre o mesmo. Parece que as pessoas querem que os conceitos se adaptem ao que ela pensa ou imagina, em vez de entender o que realmente defendem ou criar seus próprios conceitos com outros nomes. Um exemplo foi o Flisol, que mudando apenas o nome do evento, já resolveria quase todos os problemas de quem não concorda 100% com o software livre.

    Uma questão sobre liberdade de escolha é que uma vez feita a escolha você perde esta liberdade, ou seja, você só é livre se não escolher, pois escolhendo um software, livre ou não, sempre será complicado, ou no mínimo trabalhoso, migrar para outro. Faria total sentido quem defende a liberdade de escolha, defender a não utilização de padrões fechados, já que os mesmos dificultam a liberdade de escolha. Se você precisar abrir um arquivo de um padrão fechado, você seria livre para escolher um único programa proprietário que sabe como abri-lo corretamente, e isso não é liberdade de escolha, no máximo um dilema de utilizar ou não o programa.

    Já o software livre será sempre livre, mesmo que você use-o ou não.

    1. Marcos Ferreira da Rocha

      Talvez se os defensores do software livre fizessem, material de divulgação e tutoriais assim como fazemos com o ubuntu provavelmente a história seria outra, não adianta promover um evento difamando um modelo de mercado, se você nunca da as caras para dar esse suporte, prova disso é esse anahuac, publica esse textos e nunca responde.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *