Osismo é a filosofia cujo objetivo é substituir o termo \”Software Livre\” pelo termo \”Open Source\”. Para levar a cabo essa missão foi criada em 1998 a OSI – Open Source Iniciative por Eric Raymond e Bruce Perens. Aderiram, imediatamente, Jon Maddog Hall e Linus Torvalds.
Eric Raymon deixa isso claríssimo em sua carta Goodbye, \”free software\”; hello, \”open source\”. Não deixe de ler.
Software Livre era libertário demais, radical demais, revolucionário demais. Tanto que espantava as empresas e seus negócios. Era necessário flexibilizar, amansar, adoçar, relaxar a filosofia.
Perceba que o enfoque é filosófico e jurídico, não técnico. Uma nova organização, com 10 novos princípios, norteiam uma nova filosofia de acesso ao código fonte. Ao mesmo tempo novas licenças de uso são elaboradas para lastrear juridicamente o novo pensamento: são as licenças permissivas, cuja principal característica é permitir que o código seja fechado, ou seja, sem mecanismos que perpetuem a liberdade do software.
Hoje, o pensamento do OSIsmo é quase unanimidade entre os técnicos que trabalham diretamente com tecnologias livres. \”Open\” é o novo livre e código aberto substitui, quase sempre, o termo Software Livre. O argumento mais comum para isso é que são a mesma coisa, que é tudo igual. Nada poderia ser mais equivocado.
É fundamental entender que o OSIsmo promoveu essa confusão de propósito: primeiro se associando ao ativismo Software Livre, depois criando novos nomes para as mesmas coisas, depois ampliando os conceitos e as licenças e finalmente recebendo o apoio necessário do mercado pelos seus esforços. É assim que o sistema operacional GNU, rebatizado por Stallman de GNU/Linux depois da contribuição de Linus, hoje se chama apenas Linux.
O Movimento Software Livre é um movimento social e político que defende a liberdade do usuário de software através do acesso e da garantia de acesso ao código fonte. Mas ao mesmo tempo, é o próprio software, o código e tem vinculado a ele uma licença de uso. O OSIsmo foi perfeito ao se aproximar tanto desses conceitos que ficou quase impossível distinguí-los.
Separar o joio do trigo não é tarefa simples, mas vamos tentar. O primeiro passo é separar o Software Livre em suas três camadas: técnica, legal e filosófica.
Nível técnico: esse é o software em si. O resultado da codificação, que geralmente é feita de forma colaborativa e compartilhada graças ao acesso ao código.
Nível legal: aqui ficam as licenças de uso. As chamadas Copyleft ou GNU que tem cláusulas de perpetuação (obrigatoriedade) da liberdade do software. As permissivas ou OSI que permitem que o código seja fechado.
Nível filosófico: enquanto o enfoque do Software Livre é fortalecer o usuário através das liberdades do software, tonando-o independente do fornecedor, o Open Source foca na qualidade do desenvolvimento colaborativo como meio de produção otimizada para atender as empresas e o mercado.
Os dois primeiros níveis atendem, perfeitamente, o Software Livre e o Open Source. No nível técnico não restam dúvidas, afinal de contas, código é código. No nível legal, com raríssimas exeções, a compatibilidade é plena.
Considerando apenas esses dois critério é correto afirmar que Software Livre e Open Source são a mesma coisa, que são iguais. E esse é o principal argumento utilizado pelo OSIsmo para gerar a confusão que leva a situação atual. É através da simplicidade técnica e legal que eles conseguiram convencer a maior parte das pessoas de que é tudo a mesma coisa.
E já que é tudo igual, então basta chamar de código aberto e Linux. É mais fácil.
A grande diferença está no terceiro nível. É nele onde reside o antagonismo que causa toda fricção entre os ativistas e essa discussão sem fim: as filosofias são absolutamente excludentes.
O Movimento Software Livre tem o objetivo de fortalecer o usuário e a OSI tem o objetivo de fortalecer as empresas. E como numa gangorra, quando um sobe o outro, inevitavelmente desce. Não há como fortalecer os dois lados dessa moeda, porque seus interesses são antagônicos. Enquanto as empresas querem controlar e escravizar digitalmente seus usuários, estes buscam independência e liberdade.
Acrescente a esse cenário a massiva popularidade dos sistemas na nuvem, onde o software não é distribuido para os clientes, sendo usado para prestar o serviço on-line, o famoso SaaS. Nesse cenário as empresas ficam ainda mais à vontade para usar softwares livres ou de código aberto, modificando-o para suas necessidades sem ter que redistribuir essas mudanças para seus usuários.
O fortalecimento do termo Open Source, a popularização das licenças permissivas, a remoção do GNU do nome do sistema operacional e a marginalização da filosofia do Software Livre, foram o resultado de uma ação lenta, metódica e coordenada. Não há qualquer ingenuidade ou boa fé nesse processo, foi algo pensado por Eric Raymond e, levado a cabo, pelos simpatizantes dessa filosofia.
Se sua percepção de um mundo melhor passa pelo fortalecimento das empresas e do mercado, então o OSI foi feito para você. Se, por outro lado, sua percepção for pelo fortalecimento da liberdade do usuário, então mantenha-se alinhado com a filosofia do Software Livre.
Não há nada de errado em escolher um lado e se manter nele. Feio mesmo é saber que existem dois lados, estar convencido de que o Open Source é o caminho correto e enganar as pessoas dizendo que é tudo a mesma coisa.
Saudações Livres!