Liberdade de Escolha é o GNU!

O tempo passa e o ativismo do Software Livre vem perdendo espaço. Infelizmente uma parte grande dos velhos ativistas do Software Livre simplesmente se renderam ao mercado e suas \”delícias\”. Sucumbiram vergonhosamente ao argumento da Liberdade de Escolha e adotam o discurso mercadológico do Open Source, recheados de termos \”entreprise\”, como produtividade, maximização de resultados, desempenho de mercado, valor agregado, otimização da produção e outros, que compõem o leque dos jargões empresariais para suavizar os males que a complacência com os softwares não livres causam ao Software Livre. Software não livre não deve ser tolerado e se a Liberdade de Escolha permite escolher software não livre, então a Liberdade de Escolha não ajuda o Software Livre. Simples assim.

Novos usuários estão sendo sistematicamente enganados pelos falsos ativistas que fazem propaganda do Software Livre e suas vantagens e depois lhes entregam cópias de softwares não livres para que usem em seus computadores. O nome disso é estelionato e está tipificado como crime no Código Civil Brasileiro. No popular, é o famoso 171. \”Mas é só um driver\”, \”só um blob\”, \”só uma lente de pesquisa\”, dirão os salafrários. Mas a verdade fria é que estão distribuindo e propagandeando software não livre de forma consciente.

São pessoas proeminentes e conhecidas, organizadores de eventos e profissionais gabaritados.  Eles tem posições de destaque porque, um dia, contribuíram da maneira correta com o Software Livre e estão no ambiente do Software Livre há muito tempo. Eles entendiam e defendiam a ideologia do Software Livre. Por que mudaram? Por que continuam a se disfarçar como defensores do Movimento Software Livre quando não o são mais?

O Movimento Software Livre é um movimento social e político que defende a liberdade do código do software, para promover uma alteração de poder na relação dos usuários com os fornecedores de tecnologia. A liberdade do software garante poder de escolha de fornecedor, permite que o código seja auditado e fomenta a distribuição livre de conhecimento tecnológico. É claro que nesse cenário o maior poder está do lado do consumidor e por isso mesmo, o Software Livre como conceito ideológico não interessa ao \”status quo\”.

Perceba que em momento algum o Software Livre defende ou cogita a liberdade de escolha em si. Trata-se de uma pequena armadilha semântica muito bem explorada pelos poderes interessados em manter as pessoas sob controle. Liberdade de escolha é o momento anterior ao Software Livre. Você deve ser livre para escolher usar Software Livre ou não. Você deve ser livre para escolher usar Software Livre e não livre juntos. Você deve ser livre para escolher usar apenas softwares não livres. Mas você não pode exercer sua liberdade para enganar as pessoas, pois se o fizer, sua liberdade estará colocando a liberdade das demais em risco. É a velha máxima de que sua liberdade termina onde começa a minha.

Software Livre trata sobre liberdade de código e não sobre Liberdade de Escolha. Incutir o argumento da Liberdade de Escolha no conceito de Software Livre é um ato de ma fé. Em se tratando dos velhos ativistas, que sabem que estão reinterpretando ao seu gosto um conceito estabelecido como o Software Livre é ma fé em benefício próprio. Mas que benefício? Vou elucubrar, pois não tenho nenhuma prova material: receio de perder a credibilidade. Explico: estamos falando de pessoas com uma certa fama de defensoras do Software Livre, de especialistas em tecnologias livres e que tem uma \”reputação\” a zelar, mas ao mesmo tempo elas querem se inserir no mercado e ganhar $$$ sem perder a credibilidade ganha quando eram defensores arraigados do Software Livre.

Então os falsos ativistas buscam meios de lidar com suas incongruências. O método preferido tem sido deturpar o conceito de Software Livre para torná-lo mais abrangente e maleável do que é. Assim, para suavizar o discurso e permitir seus desmandos, os falsos ativistas usam a complacência da OSI – Open Source Initiative para tentar abafar a convicção ideológica do Software Livre, argumentos de mercado como a tal \”Liberdade de Escolha\” e acrônimos como FOSS que colocam, no mesmo saco, conceitos ideológicos diferentes. O mais interessante é que nos idos de 2003 a Microsoft usou esse mesmo argumento em escala global para pressionar os governos a não adotar o Software Livre de forma preferencial. Nos dias atuais, os velhos ativistas que em 2003 escreveram e palestraram contra esse sortilégio da Microsoft usam e abusam da mesma falácia.

Se você acha que eu estou exagerando que tal se perguntar por que os organizadores de eventos de Software Livre usam iPhones, promovem campeonatos de jogos privativos e vendem stands para empresas de software não livre? E se você encontrar uma boa desculpa para isso, então tente justificar porque os velhos e renomados ativistas de Software Livre defendem e promovem o uso de distribuições GNU/Linux recheadas de softwares não livres? E mais: que tal fazer uma autocrítica e se perguntar quando foi que você mesmo passou a achar aceitável ou desculpável que fosse distribuído um \”spyware\” em uma famosa distribuição GNU/Linux?

Estou absolutamente convencido de que chegou a hora dos bons começarem a fazer algo para reverter o cenário. Passamos tempo demais desculpando os excessos e permitindo o avanço do software não livre e de seus argumentos de mercado dentro da Comunidade Software Livre. Tanto que chegamos ao ponto em que os que levantam a voz em favor da liberdade são imediatamente taxados de agressivos, \”xiitas\”, radicais e intolerantes. Na verdade é exatamente o oposto. Estão tentando mudar o conceito social e ideológico do Software Livre e nós estamos resistindo.

Não me lembro o autor da frase \”se não conseguimos defender nossa causa, então devemos mudar os defensores, não a causa\”, mas fazia muito tempo que não concordava tanto com uma citação. Stallman é insubstituível, mas precisa de mais ajuda para levar a bandeira do movimento pro lado certo, ainda mais com a velha guarda que sucumbiu empurrando pro lado errado. Está na hora de a Comunidade Software Livre abrir os olhos, acordar e começar a troca da guarda!

Saudações Livres!

 

 

2 comentários em “Liberdade de Escolha é o GNU!”

  1. Marcos Alberto Marques Dias

    As pessoas deveriam mesmo fazer uma auto-crítica e se perguntarem quando foi que abriram o código fonte de qualquer programa pra ver alguma coisa? Eu te garanto que a resposta de 99% dos usuários de computadores será a mesma… NUNCA!!! Então pare de falar as asneiras…

    1. Marcos Alberto Marques Dias, vez por outra vejo gente com o mesmo posicionamento que tu. Estas pessoas só se esquecem que, segundo a Free Software Definition (do inglês: “Definição de Software Livre”, presente no artigo “What’s Free Software?” do projeto GNU), as liberdades essenciais do software devem ser todas entregues ao usuário, mas uma coisa que a definição talvez não explique, é que o usuário não precisa usar de todas as liberdades que a ele foram entregues.

      Então, questionamentos como “se todos vocês usuários de software livre nunca estudaram o código fonte do software livre que usam, então devem parar de falar sobre isso” não têm muito fundamento, visto que a liberdade 1 (de estudo e adaptação) não é útil para todos, mas sim para uma parcela mínima dos apoiadores, mais precisamente: os mantenedores de repositórios e empacotadores. Então é para eles que tens que perguntar. Nota: O governo pode ocasionalmente usufruir da liberdade 1 (de estudo e adaptação) nos casos em que precisa auditar o programa.

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