Se o seu programa de computador ou aplicativo não funcionar como deveria, quem é o responsável? Quem pode ser acionado judicialmente no caso de prejuízos ou perdas? A quem recorrer?
A maioria absoluta dos humanos apenas clica em aceitar os termos e prosseguir com a instalação sem dedicar nem um segundo às condições de uso dos programas e aplicativos. Afinal de contas que diferença isso faria? Um fenômeno parecido acontece com os manuais dos eletrônicos e com as bulas dos remédios. Não adianta ler, porque a maioria não vai entender mesmo. O aplicativo está na loga do Google ou da Apple e se está lá ele deve funcionar. O programa do computador foi indicado pleo sobrinho nerd e feito pela Microsoft, portanto ele deve funcionar. O remédio foi prescrito pelo médico ou pela avó, ambos de extrema confiança, portanto basta tomar que vai dar tudo certo.
Honestamente deve se tratar de obra divina que na maioria dos casos não há maiores consequências e os danos são aceitáveis, digeríveis e, mesmo que haja um pequeno prejuízo, deixamos isso “nas mãos de Deus”. E vida que segue.
Mas o papel desses avalistas que nos dão essa sensação de garantia é fundamental para o nosso funcionamento em sociedade. Assim como nossas avós, as empresas com longevidade tem credibilidade para nos tranquilizar sobre a qualidade e funcionamento de seus produtos. Se é Brastemp é bom. Certo? Então, primeiro, você confia na marca e depois você compra o produto ou instala o software.
Essa garantia também existe nas transações comerciais quando se compra à crédito. A loja te entrega o produto e o pagamento é garantido pela empresa de crédito. O lojista fica tranquilo e você também, especialmente em compras on-line onde o produto tem que chegar. Empresas como Mercado Livre e Amazon fazem esse papel de intermediário garantidor. Venda segura: se não gostar do produto pode devolver sem burocracia e sem explicações. Ter quem garanta a operação de compra, entrega e pagamento é parte fundamental do comércio desde sempre.
Mas nada é de graça. No caso dos cartões de crédito um percentual da venda é subtraída na fonte e o lojista recebe o valor abatido desse percentual. Agora imaginem o quanto ganham as operadoras de cartão de crédito com uma taxa média de 4% sobre todas as vendas? Os valores são astronômicos, especialmente porque é um grupo muito pequeno de empresas, todas Yankees, as que monopolizam esse mercado. Toda essa riqueza flui para os países ricos, sobretaxando como um imposto todas as operações de crédito nos países pobres. E muito além da riqueza, o poder embutido nisso. Já imaginou se Visa, Amex e Mastrcard decidem paralisar suas operações no Brasil?
Quando se trata de relações comerciais internacionais de grandes volumes as coisas são ainda mais complicadas. Afinal de contas a exportação de carne para a Rússia, por exemplo, não é feita por cartão de crédito. Estamos falando de bilhões de dólares na venda de milhares de toneladas de carne. Como o produtor de carne no Brasil pode ter certeza de que ao enviar o produto para a Rússia o pagamento será feito? Como o comprador na Rússia tem certeza de que o produtor brasileiro irá enviar a quantidade combinada? É preciso um garantidor. Alguém precisa dar garantias para os dois lados de que, em caso de falhas, eles garantem o valor da operação, ou seja, eles bancam o prejuízo. Trata-se de bancos especializados nesse tipo de operação que são capazes de dar garantias a operações de bilhões de dólares.
Esse bancos garantidores tem bens que valem bilhões, além de trabalharem em conjunto com outros bancos e inclusive com lastro de bancos governamentais para passar a credibilidade necessária. Obviamente não há muito desses bancos por ai e fica meio evidente pelo tamanho dos valores aos quais nos referimos, você já pode deduzir, que se tratam de bancos Yankees e europeus em sua maioria, e, portanto, a moeda utilizada por esses bancos é o Dólar Americano.
O primeiro passo então, é converter os rublos russos para dólares e os reais brasileiros para dólares e guardá-los em uma conta bancária em dólares. Terminada a transação e com todos satisfeitos, os dólares são convertidos de volta para as moedas envolvidas no processo para o pagamento de cada uma das partes. Mas é curioso, apesar do Brasil e da Rússia não usarem a moeda americana, que ela tenha sido obrigatória para que os dois países possam realizar seus comércios?
Ao comprar dólares a moeda Yankee se valoriza e da poder de compra para eles. Os bancos que intermedeiam a negociação faturam em dólares o que fortalece ainda mais a moeda americana em detrimento da nossa. Então não se paga apenas pela garantia, mas também pela moeda e, de tabela, ainda damos mais crédito aos Yankees, mesmo que eles não tenham nada a ver com esta relação comercial. E isso acontece em escala global com todas as negociações internacionais de grandes volumes de todos os países do mundo. É muito poder e dinheiro escoando em direção aos cofres dos USA.
Quando os Estados Unidos impõe seus famigerados bloqueios econômicos aos países que não lhes lambe as botas, é exatamente através da limitação de serviços de garantias de negociação que isso é feito. Então a França quer vender toneladas de remédios para Cuba, mas não pode usar os bancos garantidores Yankees, portanto tem que usar bancos com menos credibilidade, o que significa um custo operacional maior por conta do risco mais alto. O resultado é que os remédios chegam em Cuba custando muitas vezes mais. Assim a economia dos países bloqueados é lentamente sufocada. Dai tem-se uma boa ideia do heroísmo do povo cubano em resistir por mais de 60 anos a esse bloqueio genocida.
Mas parece que há uma luz no fim desse macabro túnel Yankee: a “desdolarização”. Sim, uma nova ordem multipolar esta surgindo através da criação de blocos econômicos como o Mercosul e os BRICS que já mantêm acordos para fazer comércio internacional usando suas próprias moedas com bancos garantidores próprios. Em outros casos, como no Mercosul já se fala na criação de uma moeda única para importação e exportação. Não acredite que a ideia é juntar reais, pesos, soles e bolivares em uma nova moeda para você comprar comida no supermercado. Trata-se de uma moeda para comércio internacional com o objetivo de acabar com o monopólio Yankee e reduzir o custo das transações. Pense na moeda única como o PIX que você faz e recebe os 5% de desconto.
Na próxima vez que ouvir falar mal dos BRICS, da moeda única do Mercosul ou do mundo multipolar, acredite que isso é propaganda imperialista buscando te convencer a manter os privilégios e monopólios no controle das relações comerciais mundiais feitas pelos Yankees e europeus.
É assim, que a simples instalação de um aplicativo da loja do Google ou da Apple, ou uma compra on-line usando cartão de crédito se espelha nas relações multi bilionárias entre países, por isso mesmo, fazer um PIX em vez de comprar no cartão é um ato patriótico.