FISL17 no rumo certo!

Esta semana foram publicados os novos adesivos do #FISL17. E entre um Darth Vader chifrudo e um cérebro eletrônico está o mais lindo deles: um GNU vazado contendo a fauna de ícones dos principais projetos de Software Livre. O recado é claro e evidente: #maisGNU. Mas um olhar mais aguçado perceberá que dois símbolos muito importantes não estão mais ali.

Faz alguns anos estamos explicando para o ativismo do Software Livre que temos sério problemas em nossa comunidade e em nosso movimento. Projetos, eventos e ativistas antigos e respeitados vem se distanciando gradativamente do conceito ideológico, social e revolucionário do Software Livre. Em alguns casos esse distanciamento é feito de forma pensada, pois as pessoas tem o direito de mudar de opinião. Em outros casos trata-se do \”comportamento de manada\”: quando as pessoas percebem que muitos fazem algo, então elas assumem prontamente, que esse algo é correto e passam a repetir a ação sem avaliar mais profundamente.

Projetos como o Kernel Linux tem se aproveitado desse expediente para tornar seu nome e ícone – o Tux – sinônimos de sistema operacional em Software Livre. E isso não seria nada além de uma tremenda injustiça com o GNU, se não fosse um golpe levado a cabo de forma premeditada: o kernel linux vem sendo recheado com softwares não livres desde 1994. É claro que podemos buscar todas as desculpas imagináveis, mas nada muda o fato de que o kernel linux não deveria mais ser classificado como Software Livre graças a quantidade massiva de softwares privativos contidos nele. Então usar a palavra Linux ou o simpático pinguim – o Tux – como símbolos de liberdade é enganação pura e deve ser evitado. É claro que isso foi sendo feito paulatinamente, então enquanto o \”comportamento de manada\” foi massificando que o Tux simboliza o Software Livre, o linux foi embutindo mais e mais software não livre.

Em outro nível não é a inserção marota de software não livre, mas a inserção de Software Livre malicioso. É estranho isso, mas a Canonical criou uma nova modalidade de software espião: o spyware livre ou \”openspy\”. Eles inseriram um aplicativo que vem ativado por padrão no Ubuntu que coleta dados do seu ambiente de trabalho e de pesquisas feitas localmente e manda os dados para empresas de terceiros. Isso sem o conhecimento do usuário. É claro que em se tratando de Software Livre, pode-se auditar o spyware, desinstalar o spyware e até mesmo distribuí-lo livremente se você quiser. Quando expostos a Canonical e sua equipe disseram que isso não era nada demais, que todos faziam isso, que era um comportamento normal de mercado. Parece que de uma hora para outra ter o logotipo vinculado fortemente ao Software Livre e seus princípios, não tinha mais a menor importância.

Muitos dirão que a distância entre o Ubuntu e as demais distribuições que distribuem o kernel linux cheio de softwares não livres é mínima e que há algo de pessoal na oposição a Canonical, mas isso será apenas uma tentativa de minimizar o problema. O movimento #semUbuntu também é o #maisGNU e focamos no Ubuntu por se tratar do maior expoente desse novo modelo de fazer negócios enganando as pessoas embutindo softwares não livres onde não deveriam. Não isentamos nenhuma distribuição que façam a mesma coisa, mas distribuições comunitárias como Fedora, openSuse, CentOS e Mandriva mantêm o linux privativo por desvio ideológico, enquanto a Canonical mantém o Ubuntu infectado por decisão comercial. E há uma diferença enorme entre os dois casos. Mas isso é assunto para outro Artigo.

Então ver \”linux\”, \”código aberto\”, \”tux\”, \”ubuntu\” e \”FOSS\” como símbolos do Software Livre foi ficando cada vez mais comum em eventos por todo o mundo, inclusive no FISL. Mas como esses símbolos já não representam mais o Software Livre, estava na hora de fazer uma correção no rumo do uso desses símbolos. No FISL16, Alexandre Oliva e eu fizemos uma apresentação longa detalhando porque \”O Tux não nos representa\” e fico muito feliz em perceber que atingimos algumas mentes.

O adesivo do FISL17 ao qual me refiro não traz o logotipo do Ubuntu e substituiu com destaque o Tux pelo Freedo, o pinguim azul com toalha de banho que representa o linux-libre, distribuição livre e limpa do \”sujinho\” linux.

Parabéns ao FISL pela coragem em virar o timão desse gigantesco navio e apontar a proa em direção aos verdadeiros valores e símbolos do Software Livre. Mais feliz do que um GNU na savana africana no primeiro dia das chuvas de verão!

Saudações Livres!

7 comentários em “FISL17 no rumo certo!”

  1. Firme como sempre; desta vez, ainda mais claro, objetivo e didático.
    Quem desejar entender as razões deste e de outros artigo anteriores, não tem mais desculpas.

    []’s
    kretcheu
    😡

  2. No FISL não pode Ubuntu mas no seu servidor web pode né?
    Quando for tentar esconder, vê se pesquisa direitinho como se oculta os banners do Nginx/PHP. Valeu ae, seu piada pronta! Como todo bom esquerdista, um hipócrita nato.

    1. Sei que não devia, mas para essa acusação sacana haverá sempre uma resposta: não uso Ubuntu no meu servidor, uso Trisquel. A assinatura do Nginx é a mesma porque o pessoal do Trisquel não mexeu. Se quiser comprovar o que estou dizendo da uma olhada na porta 8 do ssh 🙂 Ela revela a verdade. Enquanto isso vamos vencendo.

  3. Richard Stallman certa vez disse que: quando um apoiador do software livre é encontrado usando software não livre, isso não é necessariamente um motivo para difamar a imagem deste apoiador. O que esse apoiador não pode fazer é recomendar/sugerir/ensinar/instalar software não livre.

    Voltando à minha fala…

    O fato do apoiador usar software livre nada mais é do que uma extensão do problema moral criado pelo fabricante do hardware e pelo desenvolvedor de algum software, problema tal que é talvez estendido pela sociedade (agora como problema ético), e então ele recebe o fruto disso tudo. Então ele é uma vítima, não o culpado.

    Então, mesmo que o Anahuac usasse software não livre (o que não é verdade, visto que já usei Nginx e sei que ele está falando a verdade. Se quiserem, consultem o código fonte da cópia do programa do projeto Trisquel, e boa sorte), se ele realmente se considera apoiador do software livre, ele deve recomendar/sugerir/ensinar/instalar apenas software livre.

    Assim, por exemplo, ele poderia ensinar as pessoas a instalar Nginx no Ubuntu (o objeto de ensino é o Nginx). Agora, se alguém perguntar a ele “como faço um atalho para o Nginx na minha cópia do Ubuntu?” e se essa cópia estiver usando um ambiente de área de trabalho proprietário/não livre (o que acho meio difícil, mas vamos dar um exemplo) então deve-se instruir essa pessoa a procurar ajuda com a própria comunidade daquele ambiente de área de trabalho (veja que o objeto de ensino não é o Ubuntu em si, visto que não se vai usar um comando chamado “ubuntu” para fazer a tarefa, mas sim o ambiente de área de trabalho em si, que usa de comandos associados a ele).

    Por fim, devo dizer que já comentei sobre isso em outro fórum[1].

    REFERÊNCIAS

    [1] https://trisquel.info/en/forum/cognitive-ease-and-free-software#comment-82583

  4. Tenho dificuldade de entender isso: “o kernel linux não deveria mais ser classificado como Software Livre graças a quantidade massiva de softwares privativos contidos nele.”

    O kernel sendo distribuído pela GPL, pode ter softwares privativos contidos nele?

  5. Os seres humanos evoluem, o tempo passa, as coisas que o ser humano usa ou faz evoluem, e assim se faz com dados funcionais (como software, documentação, fontes de texto, desenhos de hardware, etc) e não funcionais (áudio, vídeo, imagens, modelos, etc). Até mesmo as licenças de direito autoral evoluem.

    Uma licença de software MUITAS VEZES não é capaz de cobrir alguns casos de uso, deixando algumas brechas. Por isso que se diz que “uma licença de software não prova nada definitivo para dizer se tal software é livre ou não, tende-se estudar o código e analisar a árvore de dependências”.

    Note que, por motivos estratégicos, o projeto que faz o kernel Linux não atualizou para a versão 3 da GNU GPL. Ao invés disso, decidiu permanecer com a GNU GPL 2, que é repleta de brechas, sob o discurso que “existem clausulas controvérsias na GNU GPL 3” (como as que combatem DRM e tivoização). [1].

    Note que, como já é sabido, a objeção do projeto que faz o kernel Linux sobre a GNU GPL 3 não se sustenta como em prol da filosofia do software livre, visto que eles mesmos acabam por prejudicar as liberdades essenciais que o software deveria ter.

    Além disso, eles fazem ofuscação e minificação de código fonte, o que é também software não livre, por impedir o estudo e a compreenção da lógica do programa.

    Exemplo de ofuscação “faça-você-mesmo” em GNU Bash:

    1. Abra um termninal.

    2. Faça ele executar o GNU Bash.

    3. Apenas olhe para este pedaço de código fonte abaixo:

    $’\171\145\163′

    4. Apenas olhando para ele, você, como simples conhecedor do alfabeto, mesmo depois de ter estudado o GNU Bash (suponhamos que tenhas realmente estudado), você consegue entender o que está escrito aqui? Ou pelo menos consegue encontrar documentação que prove exatamente o que esse pedaço de código fonte faz?

    5. Agora pegue aquele pedaço de código fonte que esta no passo 3, cole ele no GNU Bash e execute. Pressione Ctrl + C para parar o comando e as mensagens repetidas.

    6. Este foi o comando “yes”, do pacote GNU Coreutils. E você foi obrigado por mim a usar um código fonte ofuscado. O símbolo do dolar seguido por apóstrofo denota uma entrada de caracteres (letras, dígitos, pontos, qualquer coisa) em modo “escapado”, ou seja, que caso tivesse algum caractere especial, este não seria lido pelo shell (neste caso, o GNU Bash), mas isso dificulta muito o estudo do código fonte.

    REFERÊNCIAS

    [1] https://en.wikipedia.org/wiki/GNU_General_Public_License#Version_3

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