A era das relações interconectadas já é uma realidade nestes tempos onde as essas eras são cada vez mais curtas. A velocidade com a qual se reposiciona o prisma, cujo ângulo define, qual é a vertente do momento, é cada vez maior. Passamos pela era do capital, da informação, do digital, e o desafio instantâneo é o de ser construtivo através das relações efêmeras que tem dominado as pessoas nas plataformas de comunicação social: as tais redes sociais.
A cultura é o reflexo das ações, danças, literatura, idioma e demais características que identificam cada grupo humano. A expressão de quem se é. A identificação que faz única a nossa coletividade e que, pela natureza humana, adoramos externar e mostrar para todo o mundo, encontra terreno fértil no novo meio de comunicação de massas que convencionamos chamar de Internet.
Nesse novo meio a comunicação entre as pessoas e suas representações, acontece de forma similar ao meio real. É caótico, multidirecional, multifocal, distribuído, impessoal e pessoal, focado, e antes de nada, democrático. Ao menos, ainda. Basicamente percebe-se a transposição do comportamento humano, ordinário e comum, do plano concreto e real, para o plano digital e real. A grande diferença está no alcance. O que antes seria uma dança ou propaganda para seus vizinhos à alguns quarteirões, hoje atravessa o planeta. Sem intermediários, sem mediadores e sem censores.
Mas há alguns cuidados que precisam ser tomados, e lições que já foram aprendidas a partir de outras revoluções nas comunicações, e que precisam ser colocadas em prática. A popularização da TV trouxe entretenimento a todos, mas sempre houve a preocupação de usar essa tecnologia como ferramenta educacional. Apesar de ser uma ferramenta unidirecional, com um forte viés de dominação e propaganda dos regimes políticos vigentes, ela permitiu a ampliação do horizonte e uma nova noção do Mundo. Usar a ferramenta da forma correta foi o grande desafio e iniciativas como os “telecursos” se espalharam pelo globo numa tentativa de levar mais do que entretenimento para a população.
A TV, apesar de unidirecional, vertical e pouco democrática, foi e é uma revolução tecnológica, que em algumas décadas abraçou o planeta. Assim acontece com a Internet, sendo que esta, tem as características inversas. Então é natural que se transporte do plano físico para o plano digital a cultura, suas representações e suas mutações fruto do novo meio. A música não é apenas difundida, ela é criada colaborativamente porque as ferramentas assim o permitem. Se há algumas décadas atrás foi mágico ver a junção de cantores separados pela morte, realizando performances juntos em clipes de TV, hoje tecnologias que permitem esse tipo de realização estão disponíveis de forma gratuita e simples ao alcance de todos. Vídeos, textos, imagens, manifestações e toda sorte de expressões artísticas e culturais, são lançados na grande rede, onde à revelia dos seus autores, são misturados, remisturados, remixados, repensados, esfarelados e recompostos ao gosto e interesse dos demais humanos. Aliás, como é na dita “vida real”. Então não é apenas um reflexo, mas a criação de novas expressões que só podem ser alcançadas dentro do ambiente virtual, com suas ferramentas, e portanto, trata-se de uma nova cultura, fruto de uma nova forma de ver o mundo, de se expressar e de interagir.
O espaço tecnológico, até o momento, nunca refletiu tão fielmente o comportamento humano. Ao que parece, finalmente, a tecnologia permite sua apropriação para funcionar em interesse próprio dos seus usuários e não, necessariamente, dos seus criadores. Até o momento a Internet se mostra campo aberto e fértil para todas as manifestações humanas: das melhores às piores. Pode-se produzir conteúdo em tempo real e pode-se, com a mesma simplicidade, consumir conteúdo em tempo real, sem filtros. Então o narcisismo intrínseco ao “bicho homem” aflora com toda sua força e a mega exposição passa a ser uma realidade, e sem direito ao esquecimento.
A quantidade de informações geradas e consumidas na Internet, associado ao óbvio interesse de ser capaz de encontrá-las, gerou a criação de diversas ferramentas que se encarregam de catalogar e armazenar, tudo aquilo que acontece na grande rede para consultas posteriores. Quase como uma grande biblioteca global, onde pode-se consultar depois os assuntos de interesse. Mas o que começou como uma ótima ideia, termina se transformando em um grande risco. Os catálogos não armazenam apenas o que pode ser considerado produtivo, mas absolutamente tudo. Cada comentário, cada foto, cada ideia, cada compra, cada expressão, cada deslize, cada impropério, cada indiscrição. Como isso é possível? É que ao usarmos a Internet deixamos rastros digitais muito óbvios, que podem facilmente ser armazenados. Enquanto na vida real falamos e as palavras se esvaem ao vento, no mundo digital nossa voz tem que ser gravada para poder ser reproduzida. Essa gravação não se esvai ao vento e fica guardada para sempre.
A criação de plataformas de comunicação com alcance global, e o apelo de facilitar ainda mais a divulgação do seu narciso interior, tornaram bilhões de pessoas em voluntárias da super exposição pessoal. Facebook, Twitter e Gmail representam isso muito bem. Mantendo um registro detalhado do seu dia a dia, bilhões alimentam os sistemas com desejos, opiniões e detalhes que permitem definir quem você é, o que quer da vida, o que espera dos seus governantes e amantes, quais cores gosta mais e da quantidade de sal que você considera aceitável nos refrigerantes dietéticos. Então, ao mesmo tempo em que essas ferramentas catalisam as relações humanas, elas permitem a criação de perfis extremamente detalhados sobre a vida de cada pessoa, grupo social, bairro, cidade e país.
Se por um lado a influência de opiniões geradas em qualquer lugar ganham eco imediato em todo o mundo, e isso é revolucionário, por outro lado, a mistura de culturas e opiniões tende a criar a globalização cultural. O maior risco nisso é que também que se esta criando a globalização dos meios de controle coletivo.
Mas qual pode ser o interesse de empresas por trás desse perfilamento? Como justificar financeiramente um empreendimento que armazena o cotidiano de bilhões de pessoas? O que fazer com essas informações para gerar lucro? Propaganda, perfilamento, inteligência e todas elas juntas. Entretanto a evolução dos meios e interesses, estão dando passos largos para influenciar comportamentos. Usando os mesmo métodos aplicados às TVs e rádios, o foco é criar interesses, tendências político-sociais e econômicas em escala global. Afinal de contas as ferramentas na Internet tem alcance global, são muito mais pessoais e permitem um direcionamento muito mais eficiente. Experiências recentes feitas pelo Facebook provam que com pequenos ajustes e intervenções, se consegue influenciar as opiniões e o humor das pessoas.
Cultura digital passou a ter um novo sentido no decorrer dessas transformações. Com as novas tecnologias vem um conjunto de novas responsabilidades inerentes a seu bom uso. O automóvel, por exemplo, tem sido uma das grandes ferramentas da evolução humana, não apenas por permitir novos e mais eficientes meios de produção, mas porque é meio de transporte, individual e coletivo, de bilhões de estudantes. Mas muto além de sua utilidade o automóvel trás em seu uso a obrigatoriedade de responsabilização pelo seu uso. Leis de trânsito, de conduta e condução, tentam criar um ambiente propício ao seu uso para o bem comum, ou assim deveria ser.
Analogamente o mundo digital e suas interconexões devem ser utilizadas de forma produtiva e para o bem comum e isso exigirá o entendimento dos riscos envolvidos, além de um novo grupo de padrões comportamentais. Evitar a mega exposição, não aceitar termos de uso super invasivos, evitar os serviços gratuitos que tendem a se financiar pela comercialização de seus dados, uso de criptografia, exigir garantias de anonimato e legislação competente para evitar os desmandos das megacorporações, deverão ser algumas das preocupações dos usuários da Internet. Infelizmente a realidade atual é bem oposta a isso. Parece não haver qualquer tipo de preocupação e isso favorece os desmandos e usos escusos dos grande volumes de dados armazenados.
A Escola Viva Olho do tempo sempre teve a proposta de educar para mundo. Trata-se de uma forma nobre de educação, onde o foco esta na formação do ser, antes de atender às demandas de um regime mercantilista de sociedade. Levar a educação para o cerne de seu significado: agente transformador. Ser capaz de ler é muito bom. Ser capaz de interpretar o texto lido, é ainda melhor. Mas ser capaz de usar a compreensão para modificar produtivamente sua vida é o que faz a diferença.
Esse é o desafio que se contrapõe à toda uma estrutura educacional vigente que tem por foco manter as castas de classes sociais bem definidas. A alfabetização funcional para gerar uma massa de comportados funcionários para o mercado de trabalho. A promessa de que uma vida digna se compõe de um emprego mediano, com uma remuneração mediana, que lhe garanta uma moradia mediana, com segurança mediana e saúde mediana. Esse é o reflexo da educação nas democracias capitalistas do mundo. Errado? Certamente insuficiente.
Pensando em formas de catapultar o conhecimento a um nível muito mais alto, ensinando poesia, música, expressão corporal, habilidades manuais e o exercício cotidiano do pensar, a Escola Viva Olho do Tempo, cria oportunidades únicas na periferia de João Pessoa. Incutir a semente da independência de pensamento em áreas onde os gêneros de primeira necessidade social, como segurança e saúde, praticamente não existem, é um desafio quase intransponível.
A compreensão da importância e poder gerados pelo conhecimento tecnológico se faz presente a quase uma década, na instalação e manutenção de uma Estação Digital dentro da escola. Que fique claro que esse é um espaço aberto à população em geral. Trata-se de agir para transformar a comunidade e não apenas os estudantes. Esse espaço oferece conexão com a Internet em ambiente seguro e adequado, usando Software Livre e promovendo a integração, o compartilhamento de ideias e experiências.
Permitir a apropriação das ferramentas pela sociedade é a única forma de transformá-la. E isso se faz interagindo e promovendo o contato de todos com a tecnologia e a cultura dentro do ambiente virtual. A troca e capacitação continuada dos educadores é uma das peças fundamentais desse processo, pois o uso correto não passa somente pela criação, mas pela absorção de experiências e metodologias usadas em todo o Mundo.
O ano de 2014 marca o inicio da adoção de novas metodologias de ensino, usando a tecnologia e o autoaprendizado como meio para otimizar a aprendizagem dos alunos da Escola Viva Olho do Tempo. Baseada nas experiências, teorias e práticas do Dr. Sugata Mitra com as técnicas de autoaprendizado, permite-se a apropriação da tecnologia pelos estudantes, e assim a Escola vem buscando estimular o pensamento crítico, a capacidade de pesquisa e a extensão do conhecimento. Trata-se de permitir o uso ostensivo da curiosidade intrínseca das crianças em resolver desafios. Essa é a base de todos os jogos eletrônicos, por exemplo.
Com um ambiente propício, o desafio certo, o acesso à rede mundial de computadores e o estímulo devido, qualquer problema é passível de solução. O exercício da busca, o caminho trilhado na formulação das respostas, a elaboração dos critérios seletivos, a formulação do texto que resolve o desafio, ou seja, todo o caminho entre a proposição do problema e sua solução, é o aprendizado realizado pelas próprias crianças, e como fruto de seu próprios esforço, então ele é apreendido de forma sólida e perene.
Então a abordagem do autoaprendizado tem sido estendida a todas as disciplinas, buscando estimular os alunos a pensar de forma autônoma em áreas tão diversas quanto Ecologia e Música. Onde todos aprendem juntos, estimulados por novos desafios, que levam a um novo nível de consciência, de pensamento e de humanismo.
Essa abordagem diferenciada da educação faz da Escola Viva Olho do Tempo, um exemplo a ser seguido, estimulado e mantido. É a fusão da educação com a cultura, usando a tecnologia, o digital e ensinando que a vida é um espectro amplo e irrestrito, onde cada um pode escolher a matiz que mais lhe agrade, sem deixar de ter um olhar critico da sociedade e de seu lugar nela.