Se foram um pouco mais de dois anos desde que a Canonical decidiu enganar todos seus usuários instalando um programa pernicioso, invasivo e espião, sem dizer nada a ninguém, em seu sistema operacional batizado de Ubuntu. O programa em questão monitora suas pesquisas e entrega para a Amazon. Parou de fazer isso? Não faz a menor diferença.
Eu costumava provocar meus amigos Debianers que Ubuntu é uma palavra africana que significa \”Debian bem feito\”. A resposta era imediata, me corrigindo: \”Ubuntu significa não sei instalar Debian\”. Piadas e provocações a parte, Ubuntu significa \”Sou o que sou pelo que nós somos\”. O sentido poético é inspirador, afinal de contas, Ubuntu, eu e você deveríamos ser uma simbiose. Um conjunto. Um círculo, sem inicio nem fim, onde todos somos o que somos, pelo que todos somos.
Mas o que somos? Antes de existir a Canonical ou Ubuntu, já éramos uma comunidade de Software Livre, do Movimento Software Libre. Compartilhamento, amizade, camaradagem, liberdade, honestidade, era isso o que éramos. No Brasil fomos um dos grupos mais bem estruturados e unidos. Os laços tem haver com a cultura, a fé, a pobreza financeira, a riqueza de espírito, a humanidade e especialmente o desejo que querer o melhor para nossos semelhantes. Essa é a essência do Movimento social e político do Software Livre.
Ao longo do tempo aconteceu uma relação inversamente proporcional: quanto mais o Ubuntu evoluía como sistema operacional, menor era o compromisso da comunidade com os princípios do Software Livre. Ubuntu ficou mais fácil de instalar graças a seus drivers proprietários: a comunidade aceitou. A FSF denunciou o comportamento antiético e amoral da Canonical e a comunidade decidiu demonizar o Stallman. O kernel do Ubuntu é o que mais tem códigos não livres e a comunidade parece gostar cada vez mais.
Em 2012, depois das denúncias da FSF eu deixei de usar Ubuntu. Convidei e continuo convidando muitos a fazerem o mesmo, afinal o conjunto Software Privativo + Spyware + Comportamento de Microsoft, não coaduna com os princípios do Software Livre. Até escrevi um outro artigo dando os detalhes, chamado \”A Microsoftização da Canonical\”. Tenho alertado, pedido, conversado, escrito e palestrado. Mas parece que quanto mais eu falo, menos efeito tem. Até mesmo mega eventos de Software Livre, como o FISL e o Latinoware insistem em fazer amplo uso e propaganda da distribuição. É como se não usar Ubuntu fosse feio, impossível ou improvável. Percebo esse mesmo sentimento nos usuários dos produtos da Apple: sabem que não é correto, mas insistem em usar.
É claro que se pode esperar comportamento antiético e amoral das empresas. Elas foram criadas para isso. Em uma economia capitalista não devemos ser ingênuos, certo? Então porque a comunidade Ubuntu não reage? Como é possível que a maior comunidade defensora de Software Livre do Brasil não defenda mais o Software Livre? Porque os milhares de ativistas que se esforçaram tanto para mostrar a seus amigos e parentes que usar GNU era melhor se calam, aceitam e divulgam algo que é contra seus princípios. O que mudou?
Liberdade de código. Aquela que garante e perpetua a liberdade através da GPL. Aquela que transforma a relação entre os fabricantes e os consumidores, empoderando os usuários, finalmente. Liberdade de código que tornou restrições de área em DVD\’s obsoleta, que fez engenharia reversa em diversas placas Wifi. Liberdade que leva ao compartilhamento, que leva à excelência, que transforma software em serviço e não em produto. Liberdade que abalou as colunas dos grandes monopólios.
A Comunidade Ubuntu mudou? Claro que sim! Muito mais adeptos, muito mais usuários, muito mais computadores instalados. Então o saldo é positivo, pois mais pessoas entendem que a liberdade do software lhes garante qualidade computacional, lhes dão mais poder nas relações comerciais e assim promovemos uma sociedade mais justa, certo? Infelizmente o resultado não foi bem esse. É fato que o número de usuários cresceu geometricamente, mas a grande maioria não faz ideia do que usa, nem dos benefícios do Software Livre. E todos os usuários de Ubuntu, sem exceção, estão usando Software Privativo.
Pode-se argumentar que os usuários comuns não devem saber dos detalhes. Eles não entenderiam. Eles querem que \”a coisa\” funcione e nada mais. Pode ser, mas o risco de não educar as massas, é que quando o perigo se apresentar, elas não saberão distinguir entre o que é realmente certo, parcialmente certo, parcialmente errado ou realmente errado. Elas continuarão a querer apenas que \” a coisa\” funcione. Esse é o \”Calcanhar de Aquiles\” da massificação de usuários.
Será que a Comunidade Ubuntu tem isso bem claro? Vocês estão distribuindo código fechado! Em vez de ajudar a libertar as pessoas, estão ajudando a aprisioná-las. Será que está claro que a complacência ao aceitar a presença de código privativo e do comportamento amoral da Canonical, terminam enfraquecendo todo o Movimento Software Livre em escala mundial?
Sejam honestos com vocês mesmos. Será que não perceberam que \”aberto\” virou sinônimo de livre? É \”open\” isso, \”open\” aquilo. \”Open\”: aberto não é o mesmo que livre. Algo aberto não muda a forma das pessoas pensarem, apenas ajusta a forma de se resolver problemas. Afinal de contas com acesso ao código e produzindo colaborativamente os negócios gastam menos e obtém melhores resultados. Mas desde quando a Comunidade Ubuntu passou a priorizar o desempenho das empresas em detrimento dos respeito às liberdades do usuários? Desde quando a ideia era facilitar a instalação do sistema operacional GNU, em detrimento do entendimento de seus princípios éticos e filosóficos?
Este é um apelo a toda a Comunidade Ubuntu para que usem sua tenacidade, capacidade de mobilização, perseverança, doação e espírito, para mudar de distribuição. Mostrem a Canonical que a Comunidade Software Livre é muito maior e mais poderosa do que ela. Mostrem que o que vale é o Software Livre e tudo que ele representa, e não apenas \”um rosto bonito\”, que nos engana, maltrata e desrespeita. Escolham uma outra distribuição realmente comprometida.
Não somos ingênuos. Sabemos que o caminho é árduo. A batalha é sangrenta. O esforço é hercúleo. Mas podemos sim resgatar quele sentimento, aquela convicção de que se esta fazendo a coisa certa e não deliberadamente escolhendo o caminho mais fácil. Este é um convite para subirmos o Monte Everest mais uma vez. Desta vez do jeito certo.
Já imaginaram o recado que a Comunidade Ubuntu daria ao se intitular Comunidade GNU?
Saudações Livres!
Acaba sendo muito facil para a comunidade simplesmente usar argumentos como: Então você não usa um kernel com nenhum firmware com blob proprietário? Então você tem que usar um processador que rode sob firmware livre, então o Debian, o OpenSUSE, o Red Hat e a grande gama de distribuições GNU/Linux estão erradas…
Argumentar que estamos tão errados quanto os outros por apontar onde eles estão se afogando acaba sendo muito fácil… Ouvi esses dias que, se eu estava criticando o Ubuntu (a Canonical) eu devia deixar de usar o Fedora em um dos meus servidores… E não é bem assim que a banda toca.
Hoje em dia, ainda se torna, infelizmente, inviavel para a maioria rodar uma distribuição GNU/Linux sem incluir blobs proprietários no kernel Linux ou usar o Linux Libre (kernel Linux que lima tudo que é proprietário do kernel), e sabemos que estamos somente a “meio” caminho ao usar distribuições como o próprio Debian, o OpenSUSE e etc… Porém, o grande pecado da comunidade Ubuntu é não entender que não é nada disso que estamos falando… pelo menos não agora, esse é um problema grande, porém há um ainda maior que é o que você abordou no texto Anahuac, a deseducação do povo.
O Ubuntu ajudou a popularizar Software Livre e Software OpenSource? Com toda a certeza do mundo!
Porém, o Ubuntu hoje em sua forma vanilla, em sua forma pura, é um Sistema Operacional com malware “de fábrica” assim como o Windows.
A comunidade que não recebe a educação correta a respeito disso, começa a pregar por todos os cantos que está usando software livre, que está usando um sistema seguro e que respeito seus usuários, quando na realidade, só está se enganando, parafraseando você mesmo, se é pra usar enganado, usa o Windows que pelo menos você sabe que está usando merda…
Eu acredito que a liberdade que tanto buscamos (e acabamos não conseguindo completamente por uma série dantesca de fatores) se dá de formas muito mais viscerais do que o que é pregado como “liberdade” hoje em dia nas escolas.
A liberdade do software livre, além de tudo, invoca a responsabilidade do usuário para com aquilo que ele usa. Se ele está usando algo que não sabe para que serve, como funciona e como aquilo o afeta, a responsabilidade disso é do usuário, então, se ele assim desejar, o mesmo pode utilizar um OpenSUSE da vida sem nunca ter posto a mão em uma máquina na vida, porém, decidir permanecer na falta de conhecimento é uma escolha dele.
O que não pode acontecer é, por falta de conhecimento de um leigo sem experiência, uma comunidade que subvertida sem perceber que foi tomada, acabar aumentando em +1 seu número de seguidores.
Falei bastante, espero que o sentido ainda esteja por aqui, de qualquer forma, aqueles que se interessarem em sair do Ubuntu, fica a dica ae do Debian, do OpenSUSE, do Trisquel (Ubuntu livre por assim dizer, não é 100% compativel com todas as máquinas mas vale a pena testar) e de qualquer distribuição que te coloque no controle do que você está fazendo e não esconda de você usuário o que está acontecendo no sistema.
Hoje, juntamente com essa postagem, foi postado também sobre o projeto de um notebook com hardware montado no componentes 100% livres. Ou seja, com hardware cujos drivers são software livre (não somente source)!!
Segue o link:
https://www.crowdsupply.com/purism/librem-laptop
Já é um bom começo! O preço ainda é alto, mas se a comunidade abraçar essa iniciativa, as regras de mercado vão atuar e o preço provavelmente cairá!
Quem viver verá!!
Ubuntu é apenas uma das portas de entrada para o Linux ou GNU/Linux (como preferir), assim como a minha foi o Conectiva, existem outras tão fáceis e até com melhor desempenho como o openSuSE.
O fato é a grande maioria dos usuários do Ubuntu, são pessoas que não tem interesse em aprender profundamente o sistema assim como os seus detalhes, assim optando pelo mais fácil e mais acessível.
O Ubuntu cresceu em número por usar interfaces gráficas para se instalar software, o usuário comum não quer saber de:
$ sudo apt-get install update
$ sudo apt-get install qualquer-coisa
$ sudo apt-get dist-upgrade
O usuário deseja um sistema simples de operar, esse foi o foco do Ubuntu, a comunidade abraçou a ideia e apoiou, escreveu documentação, ficou fácil de encontrar soluções para problemas triviais. Agora é fácil criticar uma empresa que mudou sua política porém o que a comunidade fez além de criticar? Apresentaram um fork? Não. Apresentaram outra distribuição amigável? Não. Por favor, entenda que a maioria dos usuários não quer saber de escovar bits, de comandos que não entendem, eles querem clicar e usar, simples assim. Eles querem seguir a filosofia KISS que eles sabem, esta mesma do clicar e usar.
Não adianta sentar e reclamar, se não for apresentada uma alternativa melhor.
Corrigindo:
Em 2014 a Latinoware utilizou o Fedora nos computadores (sala de palestrante/imprensa, área de acesso, computador de apoio nos auditórios, etc).
Quando definimos qual software instalar, resolvemos tirar o ubuntu por 2 motivos: A Latinoware nunca “Apoiou” exclusivamente 1 única distribuição ou software, tanto que já tivemos o site oficial em vários CMS’s (como Drupal e joomla, e agora estamos usando WordPress), outro motivo para não utilizar ubuntu, foi realmente o problema que está ocorrendo com a comunidade.
Acho que o ubuntu tinha que voltar para comunidade Linux.
Fazer o unity compilar em qualquer distro por exemplo.
Esqueça ubuntu, use TRISQUEL.
Pingback: Anahuac quer que comunidade Ubuntu volte para o Software Livre - Peguei do
Se puder pegue o texto na fonte. Ele foi corrigido.
Obrigado
Pingback: Seu pai não tem que se importar com a filosofia do Software Livre, mas a comunidade Ubuntu tem | nerdices.info
Resolvido.
https://uploaddeimagens.com.br/imagens/captura_de_tela_de_2015-02-25_17_51_46-png
Simples assim.
Olá Francis,
Acho que você é uma pessoa iluminada. Tem fé, confia cegamente e está sempre disposto a dar a outra face.
Por favor, leia meu arigo: A Microsoftização da Canonical. Nele eu explico com detalhes.
Mas resumindo:
1) Porque a Caconical incluiu isso sem dizer nada a ninguém?
2) Porque vem ativado por padrão?
3) Porque você acredita que esse é o único spyware embutido no Ubuntu?
4) Porque em vez de se desculpar pelo ato imoral, quando descobertos, tentaram achincalhar o Stallman e a FSF?
Como podes ver, não se trata de apenas desativar a opção. Há muito mais segredos entre o céu e a terra do que supõe sua vã filosofia.
Em todos caso o mais simples, seguro e correto em relação ao Software Livre é não usar mais Ubuntu.
Saudações Livres!
Não amigo eu não confio cegamente em nada e nem ninguém, nem mesmo confio na minha sombra. Mas por conta disso eu não vou deixar de usar o Ubuntu por conta de um “único spyware embutido” e muito menos por que o Stallman e a FSF querem.
Aposto que todo mundo aqui usa o Android, Facebook, Google, Google+ e etc. Todos eles tem esse mesmo proposito de spyware e ninguém não fala nada. Eu não sou nenhum fanboy fanático ou algo assim do Ubuntu.
Eu uso por gosto assim como eu gosto do Linux Mint, do Manjaro Linux do Mageia e uso essas distros também.
Sobre o spyware eu desativo ele remoro o Amazon etc e estou bem com o sistema.
Sou a favor sim do Software Livre mas nem por isso não vou deixar de ouvir minha musica ver meus videos e nem acessar a internem por conta do Stallman e a FSF por que eles querem que usemos uma distro 100% Software Livre.
Corrigindo:
Em 2014 a Latinoware utilizou o Fedora nos computadores (sala de palestrante/imprensa, área de acesso, computador de apoio nos auditórios, etc).
Quando definimos qual software instalar, resolvemos tirar o ubuntu por 2 motivos: A Latinoware nunca “Apoiou” exclusivamente 1 única distribuição ou software, tanto que já tivemos o site oficial em vários CMS’s (como Drupal e joomla, e agora estamos usando WordPress), outro motivo para não utilizar ubuntu, foi realmente o problema que está ocorrendo com a comunidade.
Pingback: Comunidade Ubuntu: volte para o Software Livre | Comunidade GNU/Linux SempreUpdate
Com todo respeito à posição do autor, mas acho que esse debate não contribui para o fortalecimento da ideia de uso de plataforma open source. Teremos um grande desafio para fazer as pessoas entenderem que mesmo o Windows 10 sendo de GRAÇA as liberdade estão ainda tolhidas.
E este debate, que para mim fica num campo um pouco imaturo, é, em minha modesta opinião o que está ainda está travando o desenvolvimento do LINUX no Brasil. Parece que o LINUX é para iniciados e Samurais do Computador.
Você falam falam falam falam!!! mas eai? usam o Trisquel ou outra distro 100% “Libre”? eu duvido muito… instalem o Trisquel aí que é limpo, livre e sem nada pŕoprietário.. tente usar por um mês e veremos como será a conversa, mas como todos falam e por fim usam Windows ou uma distro Linux que usa tantos drivers proprietários quanto Ubuntu e tem tantos spywares quanto Ubuntu…. vamos sempre viver nesta hipocrisia mesmo.. o povo gosta é disso não é mesmo?
O Void está coberto de razão, eu sou um destes usuários acomodados, o que mais desejo é o melhor dos dois mundos, todas as facilidades do Windows disponíveis no Ubuntu, ainda não dá pra ser? Esperarei com ansiedade?
Mas parabéns a todos vocês que mantém acesa a chama do software livre!