Este relato é longo e contém muito pouco humor negro.
Em 22 de setembro de 2005 recebi um e-mail do amigo e companheiro de luta Pascal Angst. Pelo nome fica óbvio que não se trata de uma pessoa com cidadania brasileira. Ele é suíço, mas esta no Brasil a mais de sete anos envolvido em uma das questões mais brasileiras de todas: Reforma Agrária.
Esse tópico parece batido, desgastado, velho e comunista (sim, amigos, infelizmente, comunista virou adjetivo pejorativo). Mas uma batalha árdua e inimaginável está sendo travada no interior deste país e poucos sabem disso, e os que sabem, são apenas vítimas da má propaganda comprada e que induz ao erro de acreditar que o MST e a questão da Reforma Agrária é algo longínquo, subversivo e ilegal.
Pascal veio para o Brasil para ajudar o Movimento dos Sem Terra em sua batalha diária contra o poder opressor dos donos de terra, fidalgos, políticos corruptos e uma sociedade que a a cada dia que passa vai merecendo mais e mais o seu destino de pobreza, dor, ignorância e marginalização.
Em sua mensagem original Pascal me pediu ajuda para conseguir assessores (neste caso bem traduzido como professores) para ajudar no programa de capacitação técnica e inclusão digital que o MST estava organizando com a SEAP – Secretaria Especial de Agricultura e Pesca.
O objetivo é capacitar 120 pescadores e agricultores de mais de vinte estados do Brasil, em Software Livre, Linux, técnicas pedagógicas e consciência política. Um conteúdo que me deixou completamente perplexo pela sua ambição. É claro que o ignorante aqui era eu mesmo.
No dia 26 de setembro de 2005 eu reenviei o pedido de ajuda para a lista do G/LUG-PB – Grupo de Usuários Gnu/Linux da Paraíba na tentativa de conseguir voluntários para o curso. A proposta era bem simples: quinze dias de trabalho voluntário, longe da família e do trabalho convencional, capacitando e convivendo com agricultores e pescadores em um centro de treinamento instalado em um Assentamento do MST.
O curso já havia sido encerrado no Espírito Santo, mas as primeiras etapas do Maranhão e de Pernambuco ainda estavam por começar. E essa era a necessidade fundamental do curso, conseguir professores para essas duas etapas.
O que eu não sabia é que eu estava prestes a embarcar em uma das maiores aventuras humanas das quais eu já fiz parte. O que eu não sabia é que eu seria o educando e não o educador.
A decisão
Apesar da minha mensagem ter sido bem recebida pelo grupo, não houve voluntários. Concordo que o prazo era apertado e que não é fácil se desvencilhar de todas as atividades para dedicar-se durante quinze dias a outra atividade. Mas além de não haver voluntários, houveram reações inesperadas de críticas nada saudáveis.
Entretanto eu me senti compelido pela causa e por motivações bem pessoais. Primeiro que a luta pela adoção e desenvolvimento do Software Livre não deve ser exclusivamente virtual. É por isso que sempre estimulo a participação em eventos e em consultorias voluntárias a entidades que querem usar o Software Livre e não tem como arcar com os custos de contratação de profissionais. Portanto não é apenas enviando mensagens eletrônicas e participando de listas de discussão que conseguiremos mudar o mundo.
Minha história familiar exigia uma posição concreta. Me explico: meu avô foi um importante político que lutou contra a opressão do latifúndio sobre o homem do campo. Foi ele o fundador das Ligas Camponesas. Fundamental movimento agrário dos anos 50 e 60 que teve mais de vinte mil participantes e que confrontou de forma direta e ativa os senhores de engenho (aqui grafados em minúsculas por pura falta de mérito). Preso, torturado e exilado pela ditadura militar (idem) foi ícone da revolta campesina e um dos pensadores que inspiram atualmente o próprio MST.
Ora, ora, como poderia eu me eximir de participar de um evento onde a inclusão digital e social através do uso do Software Livre e a Reforma Agrária estariam juntos, sendo utilizados com o mesmo propósito? Como conseguiria dormir em paz tendo recusado ajudar aqueles que mais precisam de ajuda?
Assim sendo escrevi a seguinte mensagem ao grupo no dia 27 de setembro de 2005.
Olá Eric e demais amigos,
Faz muito, mas muito tempo mesmo que estou quietinho trabalhando arduamente no projeto Jegue e por isso tenho me isentado de argüir com maior ênfase nas discussões sócio/político/financeiras do Software Livre.
Entretanto esta mensagem me fez refletir e gostaria de externar aqui
minha humilde opinião.
Quero começar deixando claro que o intuito desta lista é ser o mais
democrática possível, sempre que seja respeitada a sua função, ou seja, discutir todos e quaisquer assuntos relativos ao Software Livre, portanto Eric, eu ou qualquer um pode externar aquilo no que acredita sem, necessariamente, ir contra o foco da lista.
Vamos aos fatos:
Caro amigo Eric estou realmente surpreso por encontrar uma opinião tão extremadamente direitista nesta lista. É claro que você tem direito a sua opinião e espero que posamos argumentar sobre ela, mas não esperava ver uma declaração pró latifúndio em uma lista de discussão cujo o foco é completamente oposto.
Por um momento parece que estava lendo uma daquelas mensagens da propaganda do partido nazista, ou ainda uma mensagem dos fanáticos de Redmond falando sobre \”uns loucos barbudos e baderneiros que usam FOOS\”, ou para piorar um dos parágrafos do livro de história do colégio onde ficava mais do que claro que o bom comunista fazia apenas uma refeição ao dia: criancinha.
\”Pode ser\” ( e veja que esta entre aspas ) que o MST não utilize os métodos mais legais – juridicamente falando – mas nem sempre a legalidade é justa. Como você mesmo sugeriu, o MST é uma organização
especializada e uma ONG, as duas ao mesmo tempo e tem conotação política como qualquer outra associação, organização ou grupo organizado, por exemplo como os Grupos de usuários de Software Livre espalhados pelo mundo todo.
Engana-se ao acreditar que empresas não tem conotação política. Elas a tem e muito clara: capitalismo selvagem. Afinal toda esta luta pelo Software Livre tem um objetivo claro: compartilhar o conhecimento tecnológico. Objetivo este, que tem como consequência imediata a bancarrota da Microsoft, Oracle, Macromedia e muitas outras mega corporações de TI. Eis porque de vez em quando um oposicionista mais entusiasmado nos acusa de ser comunistas.
Dentro do universo digital, nós, guerrilheiros cibernéticos nos contentamos em discutir novos paradigmas econômicos, novas técnicas de desenvolvimento de sistemas, excelência na prestação de serviços e outras \”cositas mais\”. Mas no mundo real as coisas são diferentes.
Tão diferentes que mal conseguimos fazer uma reunião dos grupos de software livre com mais de vinte pessoas. Imagine poder fazer uma passeata, um evento ou exercer pressão política sobre as esferas do poder para que nossa causa seja levada mais a sério.
O MST tem como berço um movimento chamado Ligas Camponêsas que na época pré-ditadura congregou mais de cinqüenta mil trabalhadores rurais. Nas Ligas o objetivo era claro: alfabetizar a maior quantidade de camponeses possível não para que virassem comunistas ou arruaceiros, mas para que pudessem ler seus contratos de trabalho e não se tornassem escravos do sistema latifundiário.
As Ligas camponesas foram banidas e seus líderes traídos, presos, torurados, exilados e mortos. Por acaso eu sou fruto desse exílio.
Não sei bem qual é sua idade Eric, mas acho que sou um pouco mais velho. Cheguei ao Brasil em 1980 e apesar da democracia restaurada obtive muita resistência política ( imagine só! ) dentro da escola particular onde me estudava. Por ordem do Senhor Presidente Indireto José Sarney os Grêmios Estudantis tinham direito de voltar a existir em 1985. Apesar de ser uma Lei Federal tive que convocar para uma greve geral de alunos com mais de 700 participantes para que a Diretoria de Escola permitisse eleições diretas para eleger os representantes legítimos dos alunos.
O MST é a representação jurídica e legal do movimento dos camponeses
modernos e se precisam fazer passeatas, organizar protestos e invadir terras improdutivas é porque as Leis ainda não atendem ( como nunca atenderam ) ao preceito básico da Reforma Agrária e da igualdade do homem do campo perante um tribunal.
Na verdade este modelo reformista não é novo, ele foi muito bem aplicado, apesar de todas as distorções possíveis nos Estados Unidos e se prova até hoje o mais eficiente método de produção agrícola do mundo.
Se é bom para os irmãos do norte, porque não seria bom para nós?
É o mesmo argumento que utilizamos quando pregamos a adoção do Software Livre pelo Governo em qualquer esfera: se é bom para Massachussets, se é bom para Munique, se é bom para Paris, porque não é bom para nós?
O MST tem caráter político? Claro que SIM: reforma agrária! Não tem nada haver com Lula, PT ou comunistas. Apenas querem que o seu acesso à Terra seja garantido. Tanto é assim que quando o governo petista não mais ajudou o processo o MST os criticou duramente, retomando seus mecanismos de protesto.
Espero que estas palavras toquem fundo sua \”alma, coração e mente\” e
permitam que a propaganda fascista, direitista, capitalista e individualista da minoria dominante deste país que se propaga pela querida Rede Globo, Veja e InfoExame ( só para citar três ), encontre maior resistência crítica da sua parte.
Espero o dia em que os homens pararão de olhar para seus umbigos. Um dia em que todos sejam iguais perante a lei, um dia em que todos tenham direito ao acesso irrestrito à informação, mas também à saúde, segurança, educação e um pedaço de terra para plantar seu sustento.
Apesar de todas as dificuldades, Cuba tem sido um bastião desses princípios desde a Revolução Popular. Lá vivem meus avós, meus tios e primos. Lá todos tem acesso à educação e saúde. Lá todos votam. Lá a excelência é recompensada com o reconhecimento popular e não com milhões de dólares.
Aqui é onde as coisas estão fora dos eixos, onde os que lutam de forma organizada pela igualdade são taxados de loucos, arruaceiros, baderneiros – qualquer semelhança com o movimento software livre não é nenhuma coincidência – enquanto os que realizam as políticas de exclusão social são diariamente venerados e estimulados a manter os pobres e socialmente injustiçados em seu devido lugar: fora!
Desculpe amigo Eric, mas acredito que você precisa rever seus conceitos, ou deixar o movimento Software Livre definitivamente.
Só para deixar claro: acredito tanto nestas palavras que em 1997 solicitei permissão ao governo Cubano para ir morar lá com minha família materna. O pedido foi negado. Felizmente, assim hoje busco ajudar meus irmãos nordestinos que são muito mais necessitados do que os irmãos cubanos.
Para finalizar quero dizer que eu estou me voluntariando para ir ao encontro dos Sem Terra em Caruaru no período de 31 de outubro à 14 de Novembro.
Saudações Livres,
Anahuac
A chegada e início dos trabalhos
Dia 30 de outubro de 2005
A viagem entre João Pessoa e Caruarú não foi exatamente cansativa. De qualquer forma fui forçado a ir até Recife para poder pegar o ônibus para Caruarú. Infelizmente não há linha direta.
Da rodoviária de Caruarú peguei um táxi que me levou para o Centro de Capacitação Paulo Freire no Assentamento Normandia. A viagem de táxi levou mais ou menos uns vinte minutos e percebi que estava deixando a cidade e me dirigindo para a zona rural de Caruarú.
Como que por mágica o táxi dobrou à esquerda entrando em uma rua de barro que subia uma colina. Já no caminho percebi as placas pintadas com o logotipo do MST e as palavras de ordem pintadas: “Che, Zumbi, Antonio Conselheiro. Na luta por justiça, nós somos companheiros”
A estrada de barro estava deserta e assim se manteve até chegarmos a casa principal do assentamento. Uma casa imensa que certamente um dia foi do latifundiário e que agora é a sede administrativa, biblioteca, sala de TV e quartos para hospedagem do Assentamento Normandia.
O carro circundou a casa chegando à entrada de um edifício de primeiro andar bem longo: o Centro de Capacitação Paulo Freire.
Em um primeiro momento vi poucas pessoas e imaginei que nem todos teriam chegado. Mas apenas uma hora depois, por volta das 16:00 percebi que se formava um fila imensa em frente à porta de entrada do refeitório.
Simultaneamente três cursos estavam sendo ministrados e havia quase quatrocentas pessoas sendo educadas naquele centro de treinamento.
Como diria o amigo Jilson mais tarde: “É incrível! Do lado de fora não se vê nada, parece até que esta abandonado. E depois quando se entra e se presta atenção isto até parece um formigueiro, cheio de vida! cheio de gente!”
Um dos cursos se chamava EJA – Educação de Jovens e Adultos, um grupo com aproximadamente duzentas e cinqüenta pessoas que estavam estudando todas as matérias do ensino médio para fazer as provas de requalificação educacional.
Outro curso chama-se “Pé no Chão” e congrega diversas pessoas que estão tendo seu primeiro contato com o MST e recebem capacitação política e ideológica além de realizar trabalhos agrícolas e culturais.
Finalmente estavam os alunos do curso de Inclusão Digital, que estava composto por membros de diversas Colônias e Associações de Pesca de oito estados e membros ativos do MST.
Foi nesse clima que encontrei Pascal que me levou diretamente para o primeiro andar do edifício onde estavam as duas salas de aula que seriam utilizadas por todo o treinamento.
Nesse momento fui apresentado ao companheiro Paco, um espanhol que havia chegado a alguns meses ao Brasil e que estava desempenhando o papel de “faz tudo” para as capacitações.
O Curso
O planejamento da capacitação foi feito em função da instalação de telecentros em diversas Colônias e Associações de Pesca além de centros de treinamento do MST. Isso está sendo viabilizado graças à junção de diversas iniciativas e tecnologias. Por um lado o Banco do Brasil esta doando aproximadamente 2.300 computadores velhos (Pentium 100, 64 Mb RAM, em média), o projeto GSAC do Ministério das Comunicações está instalando conexões à internet via satélite e fornecendo os servidores e no Gnu/Linux temos um projeto chamado LTSP – Linux Terminal Server Project do amigo Jim McQuillan, que possibilita o reaproveitamento de equipamentos com pouca capacidade para serem utilizados como terminais de um servidor um pouco mais possante.
Esses telecentros precisarão de dois tipos de profissionais qualificados: técnicos e monitores.
Os técnicos são responsáveis pela manutenção física do telecentro, ou seja, assistência técnica dos computadores, novas instalações do sistema operacional, cabeamento etc. Já os monitores serão responsáveis por ministrar cursos e articular a sociedade em prol do telecentro, mostrando suas vantagens e uso e, benefício de todos.
O treinamento foi elaborado para ser ministrado em três etapas. A primeira dura quinze dias e consiste em aulas regulares. A segunda é um período de mais ou menos sessenta dias onde os educandos retornam para suas comunidades e procuram aplicar os conhecimentos obtidos em sala de aula. A terceira etapa consiste em outros quinze dias de aulas regulares.
Os amigos e seus personagens
O bom humor foi um dos pontos marcantes do grupo. Cada integrante tinha sua característica fundamental bem evidenciada, fosse baixinho como eu ou alto e forte como o He-Man, ou narigudo como Louro José, lindinha como a Sexy Girl, estranho como Smilow, sábio como Gandalf e por ai corre a lista de apelidos que cada um dos mais simpáticos amigos que fiz no decorrer do curso. É claro que eu ganhei meu próprio: Dieguito Maradona. Não sei de onde tiraram a idéia de que eu de cabelo grande e encaracolado lembro ao gênio do futebol argentino. Mas não é a primeira vez que isso acontece.
Apesar de ser uma brincadeira, nem todos estão psicologicamente preparados para ela. Neste caso uma das vítimas mais atormentadas era o Paco. Apesar de ser bem alto e branco o seu apelido pegou de primeira: Cearense. Nada de ufanismos aqui, afinal o objetivo não era depreciar os cearenses, até por que os amo e tenho grandes amigos por lá. A graça estava no simples fato dele não se parecer em nada com um.
Para evitar qualquer tipo de reação negativa, não vou associar os apelidos acima com nomes reais. Se quiser se divertir um pouco, veja o album de fotos e tente identificar quem é quem.
Alguns amigos serão simplesmente inesquecíveis. A minha companheira de ronco e quarto a gaúcha Célia. Sim nos terminamos dividindo o mesmo quarto porque os dois roncamos.
Esta mulher obstinada foi o pilar de diversos entendimentos e acalmou muitas almas inquietas durante toda a duração do treinamento. Sempre com um sorriso no rosto e muito bom humor bancou o papel de matrona para todos. Inclusive para mim mesmo durante a primeira semana em que minha própria mãe não estava presente.
O amigo, revolucionário e companheiro de luta Neto. Um jovem historiador obstinado pelos movimentos sociais e extremamente engajado no MST. Com boa articulação e dono de um papo muito fluente foi amigo de todos desde o princípio.
O matemático e físico Aurindo cuja paciência e prestesa provindas da sua maturidade e consciência política e ideológica o transformam em líder nato dentro de qualquer grupo.
É claro que todos, sem exceção, são especiais. Portanto não se recintam pelo fato de não ter nombrado cada um de vocês. Apenas tive mais convivência e identificação com alguns.
Os aprendizes
Acho que não preciso pedir desculpas por colocar-nos a todos os que estavam em pé ensinando na condição de aprendizes.
Cleyton, Jilson, Paco, Vitor, Célia, Pascal e Jennie. Estas foram as pessoas que doaram seu tempo, seus conhecimentos e suas almas para ajudar a concretizar a capacitação. Confesso que me faltam palavras para expressar o real sentimento que nutro por estas pessoas.
Se cada pessoa na face da Terra fosse como esses homens e mulheres o mundo, definitivamente, seria um lugar mais justo e belo para toda a fauna e flora.
O aprendizado
Na metodologia de ensino do MST alguns critérios são fundamentais. Pelo menos foi o que eu percebi. Portanto isto não descreve a metodologia formal do MST, mas minha opinião pessoal baseada na observação.
Construção do coletivo – Nunca foi tão evidente, para mim, a palavra coletivo. Todas às atividades são executadas em grupo e a opinião do grupo se sobrepõe ao desejo individual.
Para construir esse coletivo todos os participantes de cada curso são divididos em grupos com no mínimo seis e no máximo dez membros. Estes grupos são chamados de Núcleos de Base e são a base de toda a estrutura de tomada de decisão dentro do curso.
De cada NB são escolhidos, pelos próprios membros do NB, dois representantes. Assim os dois membros escolhidos de cada NB formam a Coordenação Geral. Esta é a unidade que discute e decide sobre todas as questões do curso.
Faz parte da CG um outro grupo chamado CPP – Comissão Político Pedagógica. Esta está formada por membros dirigentes do MST, da coordenação formal do curso e um representante dos assessores convidados.
É importante deixar claro que a CPP não tem nenhum poder de veto, autoridade ou privilégio sobre a CG ou sobre os NB\’s.
Sem voto mas sempre unânime – Na metodologia que foi aplicada não era aceitável tomar decisões baseadas no voto. Isso porque a democracia quantitativa não é a melhor forma de se tomar decisões.
A unanimidade se faz necessária para legitimar a decisão tomada por um grupo. Assim as partes conflitantes devem discutir o tema indefinidamente até que exista o convencimento de uma parte sobre a outra ou que uma decisão intermediária que atenda as duas ou mais partes seja elaborada pelo coletivo. Somente assim existirá unanimidade e portanto a decisão tomada será aceita e defendida por todos.
É bastante óbvio que este processo não é o mais prático, nem o mais simples, mas o objetivo não é simplificar nem tornar prático um processo que terminará em decisões que irão afetar a todos.
Com estes dois princípios funcionando durante todo o curso o coletivo vai se formando naturalmente, permitindo que não se façam destinções entre os participantes, seja ela financeira, de status social ou escolaridade.
Um dos bons exemplos disso é que o centro de capacitação é auto gestionado. Significa que todas as atividades de manutenção do mesmo, como faxina, limpeza dos banheiros, lavar pratos, etc. são executadas por todos os participantes do curso sejam estudantes, sejam professores.
Foi nesse espírito coletivo, onde o fato e eu estar em pé na sala de aula ensinando não me transformava em nada além de mais um participante do curso, que percebi o quão insignificante sou.
Os mais entusiasmados podem tentar repelir minha conclusão mostrando todos os artigos, diários, palestras e softwares aos quais tenho me dedicado, em prol do Software Livre, nos últimos anos. Entretanto estarão se enganando. Tanto quanto eu mesmo me enganei antes.
O fato é que percebi o quanto é diferente tentar fazer a revolução que estamos propondo se não metermos a “mão na massa”, ou seja, de que adianta ficar escrevendo e-mails em listas de discussão e nada mais? De que adianta escrever um artigo sobre como fazer inclusão digital sem de fato realizá-la? Como dormir bem sabendo que minha força de execução está limitada tanto pela minha própria falta de iniciativa prática quanto pelo número reduzido de executores?
Fica aqui o meu apelo a todos os companheiros do Movimento Software Livre, a todos os companheiros que desejam um mundo melhor, a todos os fiéis de todos os credos, para que nos ocupemos um pouco menos com as idéias e mais com ações práticas que propaguem esses valores e esse conhecimento.
Saudações Livres,
Anahuac de Paula Gil
20/12/2005