Você que passou a última década Tuitando sabe bem do que estou falando. O simpático passarinho azul foi substituído por um seco e enfadonho X. O simbólico piado de passarinho deverá ser substituindo em breve por algo mais tecnológico como o som do laser de Star Wars? Quem sabe?
O magnata ficou chateado com a forma que o conteúdo era filtrado e distribuído nas redes sociais pois, ele mesmo vinha sofrendo recortes e censuras, então, num dia de puro tédio ele pegou seu cartão de crédito “Black Hole” e passou 4 Bilhões de dólares para comprar uma rede social de alcance mundial e chamá-la de sua. Vida chata essa dos bilionários.
Ele mudou as regras, liberou os filtros para que todo o pensamento fascista que estava sendo impedido de se espalhar pudesse encontrar campo fértil de novo. De novo? Sim, afinal de contas fenômenos neofascistas como Bolsonaro, Zelenski, Trump e Mattarela não são um tropeço, um acidente, mas um projeto de ajuste da régua sociopolítica mundial para reduzir direitos e ampliar a concentração de riqueza. Ao permitir que a ultra direita fascista ganhe poder, o povo passará a aceitar a direita moderada como uma excelente alternativa, processo que esta em andamento já faz um tempo e que não da sinais de que vá passar logo.
Há algumas décadas as campanhas de formação de opinião eram feitas pela mídia tradicional como rádio, TV e jornais. Mas a tecnologia nos conectou através da Internet e nos deu dispositivos móveis ligados 24/7 que nos permitiu ter acesso aos mais diversos conteúdos instantaneamente. Os donos do sistema perceberam o perigo e agiram lenta e gradativamente para controlar a difusão de conteúdo sem deixar que as pessoas percebessem isso. Depois de alguns anos o Android tornou obrigatória a criação de uma conta no Gmail, e ninguém se indignou. Cadastro compulsório em empresa Yankee para poder usar o seu celular?
Um exemplo maravilhoso da ilusão de liberdade feito pelo capitalismo é o departamento de material de limpeza dos supermercados. A variação de marcas e a quantidade de cores nos remete imediatamente às lojas de doces com suas dezenas de caramelos e bombons diferentes. Isso sem falar dos cheiros, formatos dos frascos, transparências e toda sorte de “potências” de limpeza e especificidades para cada tipo de sujeira. Uma diversidade enorme de produtos, cores e formas que escondem uma verdade: todos os produtos pertencem a um punhado muito pequeno de fabricantes. Não importa a marca, você irá consumir um dos produtos das poucas empresas do ramo que são, na maioria, estrangeiras. O nome disso é monopólio.
Na Internet acontece algo similar. A tal diversidade de conteúdos não é real. Google, Facebook e Amazon concentram atualmente mais de 90% de todo o tráfego da Internet. Filtrando e limitando ou estimulando e difundindo conteúdo de acordo com os interesses de quem lhe pagar mais ou do seu alinhamento político e ideológico. Pense rápido em 10 empresas de tecnologia e verá que pelo menos 9 serão Yankees. Portanto, o alinhamento dessas empresas será com a forma e conteúdo que os Yankees querem propagar.
O processo é tão bem feito que não há reação. Ninguém indignado ou combatendo a falta de pluralidade nos departamentos de limpeza dos supermercados e nem das redes sociais na Internet. A aceitação é tácita e dada como certa. As vezes, de forma completamente planejada, um expoente parece conseguir burlar o algoritmo e sua voz combativa ao sistema ecoa e chama a atenção de milhões, servindo como “prova” de que os sistemas de controle social não existem e que o acesso e difusão do conteúdo é plural, igualitário e democrático. Acontece o mesmo com o exemplo da mulher pobre e preta que venceu na vida, provando que o capitalismo não é racista, opressor, misógino e machista. A exceção reafirma a regra, não o contrário.
E se você pensa que o controle é feito apenas nos meros usuários comuns, esta enganado. A pressão para difundir apenas um lado e uma forma acontece em todos os níveis. Este ano, no 78º aniversário do bombardeio atômico de Hiroshima, o primeiro ministro do Japão, Sr. Fumio Kishida e o prefeito da cidade, o Sr. Kazumi Matsui fizeram seus discursos sem pronunciar nenhuma única vez os que soltaram a bomba, ou seja, os Estados Unidos, aqueles que chacinaram duas cidades e que foi o único país da história a usar bombas atômicas contra civis, matando milhares de pessoas imediatamente e depois condenaram outras milhares aos efeitos da radiação. É como se as bombas tivessem sido lançadas pela mão de Deus.
Alguém consegue imaginar um discurso sobre o genocídio sem mencionar Hitler e a Alemanha? Ou sobre a ocupação da Palestina sem citar Israel? Ou sobre o genocídio do Congo sem citar a Bélgica? Ou a fome na Índia sem citar o Reino Unido? Difícil demais. Mas acontece, e tem nome: Síndrome de Estocolmo. Assim, o violentador, o torturador, o estuprador se converte no herói da história. Ou controle midiático, onde o vencedor escreve a história, imprime os livros, publica nos jornais e TV’s, e define o alcance nas redes sociais.
Então, se o primeiro ministro e o prefeito não mencionam seus algozes, porque eu deveria fazê-lo? Não se trata de uma reação ou pensamento feito com total clareza, mas sim uma mensagem subliminar da forte coação das narrativas, que se espalham de forma rápida e ampla quando esses discursos são compartilhados nas redes. Assim os seus seguidores, que te admiram e te respeitam replicarão de forma inocente o conteúdo compartilhado por você, numa reação em cadeia que, sutilmente, direciona a consciência coletiva da forma desejada.
Então não importa se era um passarinho azul, um X, um F ou qualquer outro tic tic. O verdadeiro X da questão é até quando vamos permitir que nos cozinhem em fogo lento?