Então um dia ele acorda, lava o rosto e ao encontrar com a família deseja bom dia. Segue-se o seguinte diálogo:
– \”Bom dia, querida família!\”.
Eles se entreolham e com caras meio tortas de desânimo respondem
– \”Bom Sol\”
Com um sorriso maroto, convicto de que se trata de uma pegadinha familiar, ele completa
– \”Bom Sol, entendi, de dia tem Sol, em vez de bom dia, bom Sol. Faz sentido, muito boa essa piadinha!\”
– \”Ué Papai?, Piadinha não. Ninguém mais diz bom dia. Agora é bom Sol.\” Diz o filho mais novo.
– \”Como assim? Desde quando a definição de dia mudou? Dia é dia, certo?\” ele responde.
– \”Querido, calma, não se exalte. Veja bem, dia e Sol são a mesma coisa. Sem o Sol não haveria o dia, afinal de contas o Sol faz o dia. Então podemos desejar bom dia ou bom sol. É igual\” tentou contemporizar a esposa.
– \”Mas dia é um conceito temporal, definido pelas horas do dia que se converte em uma saudação afetuosa. O Sol é uma estrela, um copo celeste. Entendo as similaridades, mas são coisas diferentes!\” ele argumenta de forma enfática.
– \”Como você é radical! bom sol é a evolução natural de bom dia! Bom dia é velho, restritivo e ideológico demais!\” justifica, impaciente a filha mais velha.
– \”Ideológico? Restritivo? Como assim? Do que você está falando?\”
– \”O dia é limitado, só tem 24 horas. E se for considerar os momentos com luz, então estamos falando de menos de 12 horas. Por outro lado, o Sol é basicamente eterno, brilha o tempo todo e está disponível para todos. É muito maior, mais livre e mais legal.\” Explica o caçula.
– \”Caramba. Bons argumentos, mas isso justifica mudar o nome da saudação, sua definição e….\” desenvolvia ele, quando é interrompido.
– \”Claro que sim! Mas você pode dizer bom dia se achar melhor. É velho, mas as pessoas vão entender, afinal de contas, bom dia e bom sol, são a mesma coisa\”. Define a esposa.
– \”Pera um pouco! Como assim são a mesma coisa? Vocês podem ter bons argumentos, e até entendo que há mudanças idiomáticas, mas não são a mesma coisa. O dia é o dia, e o Sol é o Sol. Um bom Sol é desejar uma estrela mais brilhante? brilhante por mais tempo? mais quente nos países mais frios e mais frio nos países quentes? Acho que vocês podem inventar um novo termo para desejar um bom dia para as pessoas, mas não podem simplesmente colocar dois conceitos diferentes para significar a mesma coisa. Isso confunde as pessoas.\”
– \”Confunde nada! Você é quem está sendo intransigente!\” retruca a esposa.
– \”Mas quem invetou isso de bom sol? de onde saiu isso?\” questionou ele.
– \”Vish! Papai, isso é o maior viral da Internet, esta no Facebook, Instagram, Snapchat e Youtube. É o maior sucesso dos últimos anos! Olha aqui…\” a filha mais velha abre no tablet um vídeo de 30 segundos. Uma propaganda da Cerveja Sol.
– \”Puts! Então quer dizer que o mundo decidiu mudar a saudação bom dia, por bom sol, graças aos interesses comerciais de uma cervejaria?\”
Nesse momento a esposa já apitava de dentro do carro e os filhos foram embora. Ele ficou ali, plantado, pensando nas implicações.
Software Livre é um movimento social e político que objetiva mudar o mundo empoderando o usuário final. Open Source defende que o modelo de desenvolvimento colaborativo, permitido pelo acesso ao código, é muito mais eficiente e produtivo para as empresas. Assim percebe-se claramente que o viés de interesse dos dois movimentos é antagônico. Enquanto um tem cunho social o outro é mercadológico. Se um dia o Software Livre foi acusado de ser comunista, o Open Source é a essência capitalista. O elo em comum é a liberdade do código. Mas não há como estabelecer uma relação evolutiva entre os movimentos. Quero dizer que um não é a evolução do outro. Eles usam a mesma \”ferramenta\” com objetivos antagônicos. É como usar um martelo para construir ou destruir.
Num mundo ideal, a liberdade de opinião é inalienável. E citando Voltaire \”Posso não concordar com nenhuma das palavras que você disser, mas defenderei até a morte o direito de você dizê-las.\” Então não tenho a mínima pretensão de calar ninguém, apenas apelo por lisura, decência e honestidade. Não confunda as pessoas. Ao menos não deliberadamente.
Se Software Livre e OpenSOurce são movimentos ideologicamente antagônicos, porque colocá-los como sinônimos? Trata-se de campanha midiática, marketing, enganação de mercado, perfilamento de conceito de produto, coisas do \”business\”. Como o Software Livre tem um apelo social, aquela coisa de ajudar a todos e ser bom para todos, a OSI faz toda a força possível para pegar carona nessa imagem de politicamente corretos. Essa é uma estratégia de marketing super comum. Os antigos comerciais de TV de cigarro, que mostravam uma galera jovem e saudável, fazendo esportes radicais e depois fumando, é um excelente exemplo.
Que fique claro: OSI é pró mercado e empresas, o Software Livre é pro social e pelo usuário final. Cabe a você escolher um lado. O problema está nos falsos ativistas que dizem que Software Livre e OSI são a mesma coisa, quando não são. Esses são os OSIstas, os enganadores.
E há muitos deles, especialmente no Brasil: Alberto Azevedo, Sílvio Palmieri e Hélio Loureiro – só para citar alguns – são velhos OSIstas. Eles defendem com todas as suas forças que o mercado é o fundamental e que o Software Livre está velho, vencido, ideologicamente ultrapassado, radical demais. Eles também sugerem que o OpenSource é a evolução natural do Software Livre e que é importante, e até mesmo desejável, distribuir software não livre para ajudar a disseminar e atrair mais usuários para o Software Livre.
Qualquer semelhança com as velhas raposas da política não é mera coincidência. Esses caras estão para o Software Livre como os políticos José Serra, FHC e Aloysio Nunes estão para a esquerda. Dantes militantes comprometidos com os anseios sociais, presidentes da UNE, guerrilheiro do Araguaia e professor de Sociologia, esses três representam, hoje, o que há de mais nefasto, entreguistas e lambe botas de nossa república. Serra e Aloysio com seus projetos de entrega do pré-sal aos interesses estrangeiros e membros do \”governo\” golpista de Michel Temer. FHC como o maior privatista da história do Brasil. Canalhas!
Mas sempre há interessados em engrossar as fileiras dos enganadores. O mais novo OSIsta é o jornalista Kemel Zaidan. Em um artigo intitulado \”O Software Livre venceu\” ele desfila quase toda a lista de argumentos comuns usados para confundir e enganar as pessoas.
- Ele se refere ao sistema operacional como Linux. Sabemos que Linux é um kernel e não um SO. O nome do SO é GNU, mas \”isso não vem ao caso\”;
- O texto usa a adoção de softwares OpenSource pelas empresas como argumento de sucesso do Software Livre. Por que, se são coisas diferentes?
- Ele conclui dizendo que o Software Livre passou a ser mainstream. E ai se estabelece a tentativa de diluir os dois conceitos, fazendo parecer que Software Livre e OSI são a mesma coisa.
É sutil o suficiente para enganar até os mais atentos. É feito com muito esmero e cuidado. É coisa de profissional, afinal de contas Kemel é um jornalista experiente, foi editor da Linux Magazine, e já foi um arraigado ativista de Software Livre, tendo participado de dezenas de fóruns e eventos, inclusive como palestrante. Então não se trata de uma confusão inocente, nem um ato de ignorância. É deliberado.
O detalhe é que um ativismo honesto pode ser feito. Em um artigo publicado em janeiro, chamado \”Linux and open source have won, get over it\” o Steven J. Vaughan-Nichols já fazia a mesma análise do Kemel, mas de forma clara, como um bom ativista OSI, sem enganar ninguém: vejam que ele não cita Free Software nem uma única vez. Sequer aparece na página. Então eu posso concordar com a análise Steven, afinal de contas o objetivo da OSI foi alcançado e o Linux e a OSI venceram, mas não o Software Livre, pois nenhuma das vitórias descritas são objetivos do Software Livre.
Então fica meu apelo aos OSIstas: saiam do armário!
Saudações Livres!
O texto em questão foi escrito para ser publicado em uma revista impressa. Quando se está escrevendo para um meio digital, não há limites de caracteres, entretanto, quando você tem apenas 1 página para dizer tudo oq quer, acaba sacrificando alguns caracteres para preservar o objetivo do texto. Se ler os outros artigos que eu escrevi para a mesma revista, vai ver que em muitos utilizei GNU/Linux.
Agora, a principal diferença entre nós é que vc vê o Software Livre e o Open Source como movimentos antagônicos onde é preciso escolher um lado. Eu não penso assim. Vejo ambos como 2 faces da mesma moeda. Para mim é apenas uma questão de foco. Prefiro enxergar as semelhanças entre os dois ao invés de me concentrar nas diferenças. Afinal software livre e open source tem mais semelhanças do que diferenças.
Historicamente, sempre estivemos do mesmo lado. Não considero contraproducente gastar meu tempo e esforço combatendo OSIstas. Prefiro ter eles ao meu lado para combatermos um inimigo comum: o software proprietário.
Não te acho mal intencionado, só acho que o seu discurso não tem agregado ao software livre: divide ao invés de unir. Eu, assim como vc, tb estou interessado em empoderar o usuário final, mas não vejo os OSIstas como inimigos, mas como aliados.
Supere os rótulos e vamos todos promover o Software Livre. Se ele tem foco na colaboração ou no empoderamento do usuário final, não faz diferença, desde que promova os dois.
Se você prestou atenção mesmo no meu texto, deve ter visto que eu finalizei ele dizendo que, justamente pelo fato de ter se tornado mainstream, é preciso reforçar os argumentos extrínsecos a tecnologia. Você, prefere me ter inimigo, já eu prefiro ter você como aliado.
Abraços,
Kemel Zaidan
Meu artigo é dedicado a esse seu argumento. Eu discordo de você com veemência. Mas em momento algum tenho você, ou qualquer outro dos citados, como inimigo. Não personalize, inimigos desejam o mal uns para os outros. Eu não te desejo nenhum mal, apenas espero esclarecer as pessoas e quem sabe você mesmo sobre como o posicionamento que decidiram adotar é nocivo para o movimento Software Livre. Desde o meu ponto de vista, quem divide e danifica o Software Livre são vocês os OSIstas.
Abraço
Não temos OSIstas como inimigos, mas reconhecemos que os argumentos deles, quando são apresentados sozinhos ou priorizados (em detrimento das liberdades essenciais que lutamos), caracterizam nossa rivalidade pela consciência pública.
A partir do momento que os OSIstas começam a espalhar seus argumentos se disfarçando de ativistas de software livre, ou quando eles frequentam eventos de software livre e apresentam-se neles naturalmente sem necessariamente se esforçarem para lutar em prol do nosso movimento, então entendemos que temos que agir, eis uma explicação mais detalhada sobre o motivo pelo qual nos opomos às técnicas de persuasão dos OSIstas:
https://diasporabr.com.br/posts/ad1fda00291e0134406d005056818546#ec84a8e02aa00134407d005056818546
Kemel, muito bom seu comentario. Pertinente e objetivo. É isso mesmo. O Anahhshcauihucshchasiuhcas está afastando pessoas que poderiam contribuir com o movimento. Mas ele é auto suficiente, não precisa de ninguem.
Sabe Anahuac eu endosso aqui tudo que o Kemel te disse acima mas adiciono. O dia que você aprender que dividir e segregar é a pior maneira de evoluir, as coisas vão mudar. Troque Voltaire, por Abraham Lincoln, uma casa dividida não se sustenta. Essa sua cruzada contra o OSI não só vai prejudicar o movimento. Na verdade essa é outra questão que você confunde. Você mistura Software Livre, com Cultura Livre, essa última muito mais ampla e pode ser aplicada a hardware, vida, educação etc. Dentro da Cultura Livre temos o grande player e fundador do conceito o Software Livre, e não evoluções, mas ramificações que vieram na sequência e como consequência da cultura da liberdade que hoje você distorce completamente pois mistura cultura e software. O Open source surgiu de um grupo de pessoas que não concordavam com certos posicionamentos do grupo SL. Assim como Gnome surgiu de um grupo de discordantes do KDE, e tantos outros exemplos que temos. Nenhum saiu da cultura livre, nem do movimento e ideologias existentes dele, simplesmente exercem sua liberdade de discordar e seguiram caminhos diferentes. Mas você por não enxergar isso transformou em guerra e com seus discursos cheios de raciocínios conduzidos, e torcendo uma série de fatores acaba prejudicando uma comunidade que já anda capanga. Já te disse isso inúmeras vezes. Também não lhe tenho como inimigo, mas realmente acho que qualquer pessoa sabe que o sucesso na vida depende de disciplina, dedicação, mas necessita de boas doses de paciência, sabedoria, bom senso. Na vida a gente tem que aprender a ceder. Negociar. Se ganha muito mais com jogo de cintura do que com atitudes “turronas”.
Então assim, existe a Cultura Livre, ela engloba Software Livre, Open Source, Hardware Livre, Literatura/Documentação Livre, entre outras coisas. E é muito natural. Não existe uma chave mestra única que se aplique a tudo, e para atender diferentes necessidades surgiram diferentes alternativas.
Para ilustrar num exemplo de religião, já que é quase isso mesmo a Cultura Livre seria o Catolicismo, os defensores do Software Livre a Opus Dei, o Open Source a renovação carismática. Interessante que eu concordo plenamente que pessoas mais “apegadas” assim são importantes, assim como as mais liberais, pois dos embates entre eles, surge um meio termo, que costuma ser o consenso.
Enquanto você era só um ativista defensor do Software livre e de suas liberdades, respeitar ao máximo toda essa questão, ok, os embates eram ótimos e geravam frutos. Mas de uns anos pra cá, você resolveu declarar guerra a seus companheiros, quase como se extremistas do ISIS começassem a matar muçulmanos que não sigam a religião a risca como eles seguem. Ou seja. Você está se superando. Até mesmo para os seus padrões. Saudações livres pra você.
Como objeção ao seu comentário, gostaria de saber, onde, nas publicações e atividades públicas do Anahuac, ele demonstra defender a cultura livre?
Até onde se sabe, ele é um ativista do software livre, não da cultura livre. Um ativista do software livre que, por sua vez, faz um ótimo trabalho em diferenciar os nós dos OSIstas.
Os textos dele, em conjunto com o que está publicado no site do projeto GNU.org (todos os artigos, quase), e uma bela conversa na lista de discussão libreplanet-discuss, na lista de discussão da FSFLA, na lista de discussão lp-br-sp (será migrada futuramente) e nos canais IRC #fsf, #libreplanet, e #libreplanet-br, em conjunto com os vídeos em media.libreplanet.org e audio-video.gnu.org, fazem, finalmente, uma ótima diferenciação entre nós ativistas do software livre e os OSIstas (que para fins de clareza: Não está na ausência ou presença de código fonte, vejam: https://diasporabr.com.br/posts/ad1fda00291e0134406d005056818546#ec84a8e02aa00134407d005056818546 )
Concordo com os comentários acima. A única pessoa que esta prejudicando o software livre é você, Anahuac, que por suas palavras tenta instituir um apartheid entre o software livre e o open source. No final, os únicos prejudicados serão os defensores do software livre, que gracas a pessoas como você, acabarão cada vez mais isolados.
Então defender a definição original de Software Livre afasta as pessoas da comunidade… Mas o objetivo da comunidade é defender o Software Livre ou simplesmente atrair pessoas que talvez nem se identificam realmente com o Software Livre?
Outros reclamam que isto divide a comunidade… Que bom que temos pessoas capazes de pensar diferente do mainstream (aparentemente poucas…). Amigos, o espírito do Software Livre não é unir, é forkar. Que os softwares e as idéias sejam forkadas, e de novo e de novo, pois é assim que se evoluem softwares e idéias…
Pois eu argumento exatamente o contrário dos comentários anteriores: Quero mais pessoas divergindo e menos pessoas concordando. Que viva a divergência!
Peraí, deixa eu ver se eu entendi:
se eu defender o software livre (as 4 liberdades de software que não se mistura com software proprietário), eu sou um radical e quero o “apartheid” e sou automaticamente promovido a um Opus Dei tipo o Silas do Código DaVinci e vou “matar muçulmanos que não sigam minha religião”, é isso mesmo?
O.o
pelo menos o Silas parece um Jedi http://www.wellton.com.br/silas.jpg hehehe =)
É isso ai… os OSIstas conseguiram o mágica de redefinir o conceito de Software Livre para “a mesma coisa que Open Source” e se você discordar, você é basicamente um homem-bomba Jihadista…
Viva o Software Livre de verdade e não esse conceito distorcido trazido pelo o Open Source,(GNU is not Linux).
No meio disso tudo existem duas vertentes que atrapalham tudo.
Uma de pessoas que defendem o software livre e nunca leu a licença e não sabe nada dela, mas adora replicar “o que acha” dos outros. Estes, mal sabem usar linux (de novo, linux) e qualquer outro software e se dizem “conhecedores” sem saber verdadeiramente nada e que facilmente deturpam tudo, criando um “movimento dentro do movimento”.
E outro que entende um pouco mais sua definição mas erra em criar contendas pela maldita razão de achar demais.
Duas vertentes que andam andam e muito atrapalham.
Isso acontece com quem acha que a estrela brilha demais e infelizmente isso afeta a aproximação de muitos tanto ao software livre quanto ao opensource.
Pq bom era o tempo em que muitos se informavam de verdade e por isso que muitos estão de pe ai hoje e não como hoje em que muitos aprendem pela opniao doa outros porque “de verdade” , fingem que sabe.